quarta-feira, 30 de abril de 2008

A Ascensão de Jesus (Frei Faustino Paludo, ofm cap.)

Neste domingo, fazemos memória da Ascensão do Senhor aos céus, vivendo o sentido mais profundo da Ressurreição. Já que Jesus se fez servo, o Pai o eleva como Senhor de tudo e de todos. Em seu senhorio, todo o universo encontra seu sentido e sua referência. Após a Ressurreição, o Filho de Deus apareceu aos discípulos e, à vista deles, elevou-se aos céus, a fim de nos tornar participantes da sua divindade. O Evangelho nos traz o último encontro de Jesus com os discípulos e as palavras finais a eles dirigidas. O texto situa o encerramento de sua missão terrena e a investidura missionária dos discípulos em uma montanha da Galiléia, local indicado pelo próprio Mestre. Como território limítrofe com as outras nações, a região é o ponto de partida para a missão universal. Israel rejeitou o Messias e sua mensagem; daquele momento em diante, o anúncio da Boa-Nova é dirigido aos gentios. Os discípulos iniciarão a pregação do Evangelho a partir do mesmo lugar em que Jesus havia começado a vida pública. Os destinatários serão os pobres das nações."No alto monte" é o lugar que mostra como a despedida do Mestre e o envio missionário dos discípulos se efetuaram na esfera do Espírito. O local recorda a trajetória missionária de Jesus, onde venceu a tentação do poder, da concentração e do desejo de sucesso. No monte, Ele proclamou as bem-aventuranças e se transfigurou. Ao vê-lo, os discípulos "se prostraram", isto é, reconheceram e aderiram na fé à divina realeza do Mestre ressuscitado. O Evangelista acena que "alguns duvidaram". Mais que falta de fé e de maior percepção da prática de Jesus, o contexto revela o natural "medo do risco e do compromisso missionário". Jesus agia como Aquele a quem Deus confere seu poder: como ressuscitado, Ele detém "toda a autoridade no céu e sobre a terra". Notemos que a autoridade foi conquistada por Jesus como servo, fazendo o bem a todos e obedecendo à vontade do Pai até as últimas conseqüências. Associa à sua missão aqueles quem escolhera e lhe foram fiéis no seguimento: envia-os, dizendo: "Vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos". Os meios pelos quais os povos todos se tornarão discípulos do Mestre são o batismo em nome da Trindade e a catequese (a iniciação) cuja finalidade é a implantação do Reino. Jesus não encarrega os discípulos a ensinar apenas doutrinas, mas pede-lhes que suscitem uma prática coerente com a acolhida da Boa-Nova do Reino. "O mesmo e único Espírito guia e fortalece a Igreja no anúncio da Palavra, na celebração da fé e no serviço da caridade" (DocA. 151). O Evangelho de Mateus se encerra com a solene afirmação de Jesus: "Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo". Mateus, que iniciou o Evangelho apresentando Jesus como o Deus-conosco (Mt 1,23), conclui mostrando-o continuamente vivo e presente na comunidade de seus discípulos. Assim, a Ascensão não é sinônimo de afastamento do mundo, mas sim garantia da presença de Jesus Ressuscitado na história, a caminho da plenitude do Reino. A glorificação de Cristo torna-se, outrossim, nossa esperança. Por isso, a Igreja reza, neste dia: "Ó Deus, fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros de seu Corpo, somos chamados na esperança a participar de sua glória" (Oração da Coleta).

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