quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

3° Domingo da Quaresma (Pe. Carlo Battistoni)

Grande deveria ter sido a surpresa e o embaraço dos apóstolos quando, voltando depois de ter ido comprar alimentos para a viagem, não encontraram Jesus do mesmo modo como o haviam deixado: sozinho. Ele estava a sós com uma mulher… e uma mulher samaritana! Podemos perfeitamente imaginar a situação constrangedora e o incomodo daqueles discípulos que O consideravam mais que um rabi. Nunca havia sido visto um rabi conversar a sós com uma mulher. Aliás, para ser rabi a boa reputação era tão necessária quanto o conhecimento da Lei. A leitura inteira do episódio, mostra duas vezes a reação atrapalhada dos apóstolos diante daquilo que estavam vendo (infelizmente alguns folhetos da liturgia propõem somente uma parte deste Evangelho, e isto nos causará um pouco de dificuldade para entender a amplitude o fato narrado); ora, justamente o superamento dos preconceitos é o tema central que roda em torno do episódio da mulher samaritana. Anos depois os discípulos conseguiram rever naquele episódio o indício que o próprio Senhor havia dado a fim de que a comunidade de fé estivesse sempre unida e fiel ao seu patrimônio de valores, mas não se entrincheirasse em padrões comportamentais, confundindo as realidades que vêm de Deus com outras que vêm dos homens. Dentro desta ótica vamos tentar ler com atenção o trecho, com as ressalvas necessárias devida às possíveis opções litúrgicas.
É verão, em pleno meio-dia, o calor e o cansaço da viagem estão na origem deste episódio. Como das outras vezes, vemos que Jesus não possui um “projeto” de evangelização ou esquemas semelhantes, simplesmente sabe colher a intensidade de cada momento que o Pai Lhe oferece e o transforma num momento de encontro, num ato “salvifico”.
A indicação da “hora” é uma característica importante no Evangelho de João pois indica que algo novo acontece “agora”. O Reino não é uma quimera longínqua, mas algo que acontece e acontece num determinado momento. Este momento, único, é salvífico porque muda radicalmente a história, de um homem e da humanidade. O meio-dia, para o Evangelista, é a hora da plena luz, quando tudo fica claro, nada se esconde na sombra. É ao meio-dia que Jesus é julgado diante de Pilatos, é ali que, pela única vez, Jesus se declara Rei; é reconhecido “rei” por um pagão e é rejeitado como “rei” pelos próprios judeus. É o julgamento da luz, da verdade –como veremos mais adiante neste mesmo trecho-. È na hora da luz, ao meio-dia, que Jesus se oferece como alternativa a uma série de julgamentos ordinários.
O primeiro é aquele que divide as pessoas e que as prende, amarra e sufoca a instintiva solidariedade entre elas. A Samaritana fica cheia de espanto quando Jesus não a vê como uma “samaritana”, mas sim como uma mulher: «“Como? Tu, um judeu, tu me pedes de beber a mim, uma mulher samaritana?”». Todos têm “sede”, todos são profundamente homens antes de serem isto ou aquilo. Quantas vezes acontece que, somente em caso de uma desgraça, de uma catástrofe que varre indiscriminadamente, re-descobrimos que somos apenas pessoas! Quando esquecemos o essencial de nós mesmos, quando o “resto” toma conta dentro de nós é que começam separações e divisões. A divisão entre Samaritanos e Judeus era de longa data (931 a.C.); a primeira ruptura foi por causa da confusão entre dimensão religiosa e política no meio do mesmo povo, Israel (narrada em 1Rs. 12). Mais tarde, durante o período em que Judeus e Samaritanos foram deportados para Babilônia não se houve falar de divisão; contudo, quando Israel regressou após o Edito de Ciro 537(538), a divisão voltou com maior força, principalmente quando se tratou de reconstruir o Templo que deveria ser o sinal da unidade (fato narrado em Esd. 4). Foi assim que os Judeus construíram um Templo em Jerusalém e os Samaritanos sobre o monte Garizim (daqui a pergunta da Samaritana sobre qual fosse o culto “certo”). Na época de Jesus este Templo não existia mais, -por isso a mulher não usa a palavra “Templo” mas sim “monte” - pois cem anos antes, os Samaritanos foram atacados pelos Judeus que derrubaram o Templo.
«Não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher…» escrevia Paulo (Gal. 3,28) muito tempo depois. Esta convicção era clara na Igreja primitiva, coisa que lhe custou vários mártires uma vez que contradizia o sistema social, dividido rigidamente em classes (cfr. Platão: “Apologia de Sócrates”). A pessoa vale mais do que a situação em que está, este é um princípio basilar do Evangelho.
O segundo preconceito é representado pela ilusão de se encontrar com Deus através das regras, da Lei, do próprio esforço individual. Vejamos como João no-lo indica.
Cavar um poço era uma obra grandiosa na antiguidade, o risco era grande, na maioria dos casos eram mais os insucessos que os resultados. O poço cavado no terreno que fora de propriedade do Patriarca (Gen. 33,19) tinha uma profundidade de 32 metros e conseguiu dar água ininterruptamente por 500 anos. Que herança maior poderia ter deixado Jacó? Ora, a literatura dos rabinos comenta em sentido simbólico a água associando-a à Lei; igualmente encontramos esta convicção em profetas como Ezequiel (47) e Zacarias (14,8) onde a salvação que chega a todos os povos é representada por um rio que sai de Jerusalém, de suas instituições, culto etc. O quadro descrito pelo Evangelista, mostra algo totalmente diferente. Um poço é resultado do esforço humano, uma fonte não, é um dom de Deus. É por isto que Jesus é apresentado como «sentado junto à fonte» e não a um poço. A mulher precisa de um instrumento para atingir água de um poço; não é preciso nenhum instrumento para atingir água dum manancial, ela brota espontaneamente. Substituindo a expressão “poço” por “fonte”, o Evangelista usa o mesmo vocábulo usado para falar das águas de Meribá (Ex. 17; Nm 20 etc.). Elas são um manancial, uma fonte, um dom que Deus deu em resposta à confiança de Moisés e à sua fidelidade ao projeto de Deus durante a crise do deserto. A Lei e as regras são como um poço, a fonte é um dom. Aquilo que Jesus está disposto a dar se coloca, então, na linha de uma “fonte”, não de um poço escavado por um homem. Confiança, fidelidade são as atitudes que permitem a Jesus de ser “fonte”, de dar a sua água. Uma água que vem de uma fonte e se transmite como uma fonte. Gratuita, espontânea, sempre em movimento dentro da pessoa que dela bebe; capaz de gerar os mesmos sentimentos e atitudes também em outros homens; uma fonte que se propaga por si própria. Dom que se transforma em outro dom, um círculo de gratuidade sem limite, capaz de modificar tudo – como acontecerá com a mulher-. Ezequiel (47,1-8) dirá que a “água do Templo” é capaz de sarar as águas amargas e dar-lhes a vida, João dirá que esta água é a gratuidade de Deus, descoberta em Jesus. A releitura entre a rocha da qual brotou a água do deserto e a nova pedra, Jesus, se faz evidente lendo esta carta de Paulo: «Os nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar… Todos eles comeram de um só alimento espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo» (1Cor.10,1ss).
Continuando na leitura, encontramos um outro esquema que Jesus quer romper. Os judeus estavam convencidos (por uma tendenciosa interpretação das Escrituras) de serem os depositários da salvação. Como se a salvação estivesse ligada a eles numa forma fisiológica de modo que o simples fato de pertencer ao povo Hebreu, de seguir os ditames e regras, garantisse a salvação. Do modo como é apresentado pelo Evangelista, ao contrário, Jesus se declara fonte que brota para todos num território alheio, forasteiro. Isto porque não é possível associar o Reino a uma determinada maneira de entender o Reino, a uma específica cultura ou modo de ver. O Reino supera qualquer particularidade e presunção. O Reino é Jesus, descoberto como fonte, independentemente de quem consiga fazer isto. A este propósito o Evangelista usa a condição familiar da Samaritana para introduzir um outro elemento essencial para o caminho da fé. Ela «não tinha marido» porque «tinha cinco» (parte que alguns folhetos omitem, infelizmente). Por si própria esta expressão é difícil, mas não fica tão complicada assim se a associarmos ao fato de que os Samaritanos, por uma questão de princípios, por não querer identificar-se com os Judeus e por uma outra série de motivações, acabaram recusando grande parte da Escritura, retendo somente o Pentateuco, os primeiros cinco livros da Escritura («cinco maridos»). Segundo eles, somente estes eram inspirados por Deus e o resto era fruto do judaísmo (algo semelhante aconteceu também em torno de 1520 com o cisma de Lutero e seus sucessores em relação à Igreja Católica).
À Samaritana que Lhe perguntava qual fosse o culto certo, Jesus respondeu mudando completamente de plano: «vai chamar teu marido». Invés que um culto, Jesus fala de uma relação, tendo como imagem o profeta Oséias que compara a verdadeira relação entre Deus e o homem ao seu matrimônio, onde o amor e a fidelidade foram capazes de superar também a prostituição de Gomer (esposa de Oséias). O Verdadeiro culto não se dá num monte ou num Templo, não é ligado a este o àquele ponto de vista, nem à presunção de estar acima da história e da tradição. A Samaritana «não tem marido» porque não possui uma relação estável; os «cinco» não são maridos dela porque ela escolhe o que quer. Os «cinco» -simbolicamente falando com João- são somente fruto de um capricho particular, não são o que Deus propôs ao inteiro povo de Israel. Para reforçar esta sua posição, Jesus categoricamente afirma à mulher que «a salvação vem dos judeus», mesmo que estes tenham interpretado erroneamente e manuseado a seu interesse esta verdade. Se desligar daquilo que Deus estabeleceu, do seu projeto, mesmo com a convicção de estar no “certo”, não combina com a salvação.
Por último, Jesus propõe o culto autêntico com estas palavras: «os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade », que na linguagem bíblica significa: respirar a presença (Espírito) e ser confiável, fiel (a palavra “verdade” tem a mesma origem de “fidelidade”, “ser digno de credibilidade”).
Superados os preconceitos peçamos a Deus que nos ensine a beber da fonte que nos mantêm vivos, autênticos, capazes de transluzir a presença de Deus.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

“Dá-me de beber” (Madre Tereza de Calcutá)

Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
Carta a toda a sua comunidade, dita “Testamento espiritual”
As palavras de Jesus “Tenho sede” (Jo 19,28), que estão escritas na parede de todas as nossas capelas, não fazem parte do passado mas estão vivas, aqui e agora; elas são ditas para vós. Acreditais nisso? Se sim, ouvireis e sentireis a sua presença. Deixai-o tornar-se tão íntimo em vós como ele o é em mim; essa será a maior alegria que lhe podereis oferecer. Tentarei ajudar-vos a compreender isso, mas é Jesus, ele próprio, o único a poder dizer-vos “Tenho sede!” Escutai o vosso próprio nome. E não apenas uma vez. Todos os dias. Se escutardes com o vosso coração, vós ouvireis, vós compreendereis.Porque é que Jesus disse: “Tenho sede”? Qual é o sentido? É tão difícil de explicar por palavras… Contudo, se deveis reter alguma coisa desta carta, que seja esta: “Tenho sede” é uma palavra muito mais profunda do que se Jesus tivesse simplesmente dito “Amo-vos”. Enquanto não souberdes, e de uma forma muito íntima, que Jesus tem sede de vós, ser-vos-á impossível saber o que ele quer ser para vós; nem o que ele quer que vós sejais para ele. O coração e a alma das Missionárias da Caridade consistem exclusivamente nisto: a sede do coração de Jesus, escondida nos pobres. Eis a única fonte de toda a nossa vida. Ela dá-vos, ao mesmo tempo o objectivo… e o espírito da nossa Congregação. Estancar a sede de Jesus vivo no meio de nós é a nossa única razão de ser e o nosso único objectivo. Podemos dizer o mesmo de nós próprias, a saber, que essa é a nossa única razão de viver?

3° Domingo de Cuaresma (EMILIANA LÖHREL)

Como "agua de vida" otorga al hombre la "salvación". Tal es, en pocas palabras, el contenido de la misa de hoy. Dos imágenes: la roca que mana agua en el desierto (/Nm/20/06-13; epístola) y la mujer junto al pozo. El agua brota del seno de la tierra en ambas: de la dureza de la roca, en el desierto, y de lo profundo del pozo. La fe en Dios abre la roca y del agua del pozo nace la fe en Cristo. El agua de la roca se escabulle por el desierto del alma de un pueblo incrédulo, mientras que el agua del pozo origina la fe en el alma de una mujer. En el desierto, la piedra era, según el Apóstol, Cristo; acompañó a este pueblo, cuyo corazón era un verdadero desierto, siendo totalmente ignorado, y le dispensó su agua. Más tarde, en la plenitud de los tiempos, vino Cristo en forma humana y reposó junto al pozo.
Entendamos bien la imagen: Jesús reposa junto al pozo, no que Él sea el pozo. En el desierto era la roca y a la vez el agua de la roca. A su alrededor todo era desierto, un pueblo incrédulo.
Ahora ya no es desierto, la tierra es fecunda y la campiña se muestra madura ya para la cosecha. Hay un pozo, y Jesús se llega junto a él, deseando beber sus aguas. ¿Qué es este pozo? ¿De dónde vienen sus aguas? No olvidemos a la mujer que va al pozo. El evangelio cuenta que los discípulos de Jesús se sorprendieron al verle hablar con una mujer... ¡Ahora empezamos a caer en la cuenta! Sólo hay una mujer con la que Cristo quiera hablar, y para esto vino al mundo: su esposa, aquella con quien su Padre le desposó ya en el Paraíso: su Iglesia.
Esta y no otra es la mujer del pozo con quien Cristo quiso hablar y le pidió agua del pozo. Pero tan pronto como ella comienza a hablar con El, no le pide ya más agua... ¿Qué querrá indicar con esto? ¿Será, acaso, la mujer del pozo y su conversación el agua que Cristo busca? No vayamos a buscar imágenes nuevas y extraordinarias; tenemos los símbolos; pues bien: miremos de comprender lo que la divina sabiduría quiere indicarnos con ellos. En efecto, los antiguos consideraban los manantiales como seres femeninos; existen innumerables mitos y leyendas que hablan de la fuente madre, que escondía en su seno a los que todavía habían de nacer. El pozo, por tanto, es símbolo de lo femenino y maternal. En el relato evangélico, el pozo y la mujer encarnan los símbolos de una misma actividad materna y femenina en el mundo de la gracia; son imágenes de la Iglesia.
Pero vayamos ahora a ver el punto en que la verdad celestial desborda el símbolo terrestre y humano: este pozo no tiene el agua de sí mismo. El agua del pozo no es agua de la tierra, sino agua del cielo; por esto es un "agua vivificante". Según los antiguos, que nada sabían del ciclo que recorren las aguas, existía un agua que tenía su origen en el seno de la tierra; la tierra no la tenía recibida, sino que era cosa propia suya. Era el agua de la tierra, la auténtica "agua viva". En busca de esta agua se cavaba y se perforaba el suelo, y cuando manaba se la recogía en pozos. Tales pozos los cavaron los patriarcas para abrevar a sus ganados. "Nuestro padre Jacob nos dio este pozo; de aquí bebió él, sus hijos y sus rebaños", dijo la mujer a Jesús.
Pero Jesús sabe más que ella: "todo aquel que bebe del agua que yo le daré no va a tener más sed, pues el agua que le daré se convertirá en él en fuente de agua viva que manará hasta la vida eterna".
Queda con esto revelado el misterio: el pozo, no éste visible de Jacob, sino el invisible y místico, no tiene agua de por sí; su agua es celestial, tiene su origen en la vida eterna. Ha bajado del cielo para llenar los pozos de la tierra. Pero no del mismo modo que el agua de la tierra puede llenar una cisterna, no; el agua del cielo está en el pozo como agua viva, como fuente que siempre mana. Es una fuente que no es como las de la tierra, es decir, de carácter femenino, sino que su carácter es masculino: es el mismo Cristo.
Jesús fue al pozo y pidió de beber de él; mas este pozo no tenía el agua vivificante. Dios había hecho de la creación una tierra fecunda; en el mundo, el hombre era el pozo cuya agua viva era la vida divina de la gracia. Tal era el agua vivificante que, subiendo de él, regaba toda la creación dándole eterno frescor.
Pero vino el pecado, y entonces el agua de la vida divina cesó de manar en el pozo de la creación; ésta se tornó un desierto. Dios, empero, ansiaba volver a ver reflejado su rostro en el pozo de la tierra y poder beber agua de él, agua que sería la vida de su vida, el amor de su amor. Vino Cristo y primeramente iba con su pueblo escogido por el desierto como una roca que manaba agua; más el desierto se negó a reverdecer, además de que no había en él pozo alguno que recogiese el agua que manaba de la roca. Más tarde volvió Cristo y clavó el leño de su cruz en el suelo árido del desierto; con sus propias manos cavó un pozo y lo llenó del agua de la roca -esta roca era su costado, abierto por la lanza del soldado, de donde manó el agua-, que era su vida divina. Y así fue como el nuevo pozo de la creación quedó convertido en manantial del que brota la vida eterna.
Este es el misterio del Evangelio de hoy. La mujer ante Cristo, su creador, es la imagen de la creación; ella es un desierto, un pozo cegado, pues es pecadora. Pero Dios la coge y ella se abre al agua del cielo, que bebe con gozo y avidez. Así se torna caudaloso manantial; el pozo vacío queda lleno, y he aquí que ya mana el agua vivificante. Toda la ciudad se apresura a acudir allí y beber: "¡Venid y ved! Un hombre me ha dicho todo cuanto he hecho; ¿no podrá ser el Cristo?". En cambio, sus discípulos se asombraron al verle departir con una mujer; es que aún no conocían el misterio, sus ojos no estaban todavía abiertos, nada sabían aún de esta mujer -la Iglesia-, que es la que les ha de dar a luz a ellos, los discípulos, engendrándolos a la verdadera vida como frutos primerizos del amor de Cristo.
Cristo ha llamado a sus discípulos "hijos de la esposa" (Lc 5, 34), y ellos no se dan cuenta de que ya ha empezado la solemnidad de la boda. En esta mujer no ven la imagen de la esposa; no reconocen el pozo cuya agua ella bebe ni el manantial de aguas vivificantes que ellos mismos tienen que llevar, cual místico torrente divino, con tal ímpetu, por todo el mundo. No saben aún nada de todo esto y no son, por consiguiente, capaces de comprender este acento de entusiasmo de Jesús que ello refleja.
Pues no ven -cosa que ya Jesús descubre- que el desierto florece y se convierte en tierra fecunda y madura para la recolección. Más tarde lo van a comprender, cuando Dios ponga en sus manos la hoz para segar las espigas, cuando ellos mismos anden sembrando la nueva semilla y sea su sangre la que abona la tierra para que dé fruto.
Nosotros, engendrados merced a la sangre de su martirio, comprendemos el misterio de la narración que hoy leemos en la misa. Nos sabemos hijos de ese pozo, renacidos del agua de la vida. Esta imagen se nos hace transparente si la situamos en la realidad que vivimos: Cristo descansa cabe el pozo y habla con su esposa, la Iglesia, acerca de nuestra salvación. Hablan de la "paz de su pueblo" (Sal 84, 9); pues "el tiempo ha llegado" (Sal 101, 14) en que le ha de dar su vida. Próxima está la hora de la boda sangrienta, cuando el esposo va a morir en cruz y de su costado abierto va a manar agua y sangre. El agua mana y llena la pila bautismal; la sangre fluye -bajo el símbolo del vino- y se mezcla con el agua en el místico cáliz del altar. ¡Grandes misterios! El agua y el vino, ambos rebosantes de la vida divina que brota del "corazón de Dios" (Lc 1, 78). La vida, el Pneuma de Dios está en esta agua y esta sangre: "tres son los que dan testimonio sobre la tierra: el Espíritu, el agua y la sangre, y estos tres son uno solo" (1 Jn 5, 7-8). Esto es lo que Jesús vio, como de antemano, en el pozo de Jacob. La "luz del testimonio" que brilla en la plenitud del misterio le iluminaba, salida del plácido espejo de las aguas del pozo. Esta luz cobró realidad con su muerte; su vida se salió de El con su sangre, y , como agua vivificante, llenó el pozo de la iglesia. Hoy, al escuchar el evangelio del agua de la vida, todo esto se renueva en la presencia mística que nos proporciona siempre la liturgia. Cristo descansa junto al pozo que es su iglesia, y con ella se apresura a ir al encuentro de la Pascua, que va a ser la noche de las nuevas bodas. Oímos el murmullo de la fuente que nos ha dado la vida; esa fuente la tenemos en medio de nosotros; manantial que no cesa de dar la vida de Dios, presente en el pozo del misterio.
Y esperamos la noche de Pascua para poder volver a beber en él el agua de la vida. ¡Como no iba a conmover esto a los neófitos! en aquellos tiempos oían hoy en la celebración litúrgica la palabra vivificante de esta agua y percibían el plácido reflejo de este pozo, del que iban a renacer como hombres nuevos y sanos, hijos de Cristo y de la Iglesia. ¡La antigua imagen de los mitos cobraba realidad! El misterioso pozo maternal se veía rodeado de formas infantiles aguardando la hora de nacer. Sobre ellos velaba el ojo atento de la madre Iglesia, la cual hablaba con Cristo acerca de la salud de sus hijos.
La Iglesia veía a esos seres aún no nacidos a la vida nueva, y nos ve a nosotros, nacidos ya, pero vueltos a envejecer por causa del pecado, áridos como el desierto y cercanos a la muerte. Y ruega entonces: "Obra, Señor, una señal en mi favor, para que mis enemigos la vean y se confundan. ¡Señor, me has ayudado y me has consolado!" (Sal 85, 17; introito). ¡Consuélame, Señor, con el nuevo nacimiento de mis hijos! Dame una señal; da a mi seno una vida nueva y floreciente, para que mis enemigos no se burlen de mí: "Mira, Señor, al rostro de tu Iglesia, y haz que sean en ella muchos los regenerados a la nueva vida" (Consagración de la pila bautismal, el Sábado Santo). "Atiende la voz de mi plegaria, Dios mío y mi Rey; porque, Señor, a Ti me dirijo" (Sal 5, 3-4; ofertorio).
Segura ya de ser atendida, la Iglesia se da al júbilo,; y con ella hemos de alegrarnos también todos nosotros, los regenerados: "Mi corazón ha esperado en Dios, y me he visto socorrido. Mi carne ha vuelto a florecer. Con todo mi corazón alabaré a Dios" (Sal 27, 7; gradual). He aquí, real- mente, un verdadero canto de Bautismo y de Pascua. Todo el resplandor primaveral de la resurrección a una nueva vida se encuentra compendiado en él. Se echa de ver aquí la imagen de un hombre nuevo y sano, un cuerpo puro, como de niño, en el que brillan aún las gotas del baño sagrado; rodeado del verdor de la primavera de la gracia, y llevando en la mano gozosamente las flores de la nueva vida. Así nos lo pinta la inicial miniaturada de un antiguo salterio.
Pero, certeza todavía mayor es la que brota de la comunión. Desde ahora todo se ha hecho ya patente; ¡la promesa del evangelio es ya una realidad! No es preciso a que aguardemos hasta Pascua.
Ahora que nos vamos acercando a los días santos, bebemos ya lo que bebimos el día de nuestro santo Bautismo y beberemos el día de Pascua: bebemos a Cristo vivificante. Brota en nosotros mismos como fuente de agua viva y llena el pozo de la Iglesia, hasta que el día de Pascua rebasará los bordes. Entonces, el espejo de las aguas de la vida divina enviará su brillo a lo lejos, al desierto de este mundo. Y, al igual que al comienzo de la creación, Dios reposará junto a la fuente y beberá. ¡He aquí la vida que da respuesta a su vida, el amor que cambia con el amor el beso de los sagrados esponsales!
EMILIANA LÖHREL AÑO DEL SEÑOREL MISTERIO DE CRISTO EN EL AÑO LITURGICO I EDIC.GUADARRAMA MADRID 1962.Pág. 344 ss.

domingo III de Cuaresma

Es un conjunto de textos claramente "tematizados" en función del Evangelio, que es el texto fundamental que guiará toda la celebración del primer escrutinio. La idea clave del conjunto es "JC ofrece el Don de Dios que llega al corazón del hombre".
La imagen central es el don del agua al sediento (1a lectura y evangelio) y las realidades significadas son la Palabra de Dios que conduce a la fe (salmo y evangelio) y el Espíritu derramado en el corazón de los hombres (2a lectura y evangelio) Desde el punto de vista del corazón humano, se hace una descripción de sus tinieblas: falta del sentido de Dios (1a lect.), endurecimiento del corazón (salmo), enemistad, amor descarriado; pero también de su capacidad de apertura y de deseo de verdad (evang). La centralidad de Jesús en el conjunto es clara: es el gran protagonista. Se presenta en la totalidad de su persona. Es capaz de cansarse, de sentarse fatigado y rendido a mediodía, de tener sed... y al mismo tiempo capaz de anunciar el don mesiánico del Espíritu, fruto de su resurrección, y de presentarse como la plenitud de adoración del Padre.
-Análisis doctrinal del prefacio.
El texto del prefacio propio de este domingo del ciclo A constituye una filigrana doctrinal, aunque a primera vista parecería un juego de palabras. Cuatro palabras juegan en el conjunto: sed, fe, agua, fuego. El actor es JC, nuestro Señor.
Él pide agua (es el punto de partida) y "crea" la fe en el corazón de la samaritana (in ea fidei donum ipse creaverat); tiene sed de la fe de la samaritana, y por eso enciende en su corazón el fuego del amor divino (fuego que producirá, en la samaritana, la fe como sed de Dios). Por parte de Jesús, pues, hay una petición explícita -el agua para beber- que significa una realidad espiritual -un corazón ardiente de caridad. De una sed material se pasa a una sed mesiánica: el deseo de ver difundido el Espíritu en el corazón de los hombres.
En el diálogo evangélico, este entramado de imágenes se encuentra en las palabras de Jesús: "...el que beba del agua que yo le daré se convertirá dentro de él en un surtidor de agua que salta hasta la vida eterna". Entonces resulta claro el paralelismo con el Apóstol: "...el amor de Dios ha sido derramado en nuestros corazones con el Espíritu Santo que se nos ha dado".
SED-MESIANICA. Con razón, se pone en relación la escena de la samaritana con el "Tengo sed" de la cruz. También allí, tiene sed material -comprensible- pero al mismo tiempo está proclamando la sed mesiánica: "Tengo sed de ver al Espíritu difundido en el corazón de los hombres, para que puedan tener sed de Dios, es decir, amarlo con deseo ferviente". Su obra redentora a través de la cruz recibe así su consumación, una vez Él había cumplido todo lo que era necesario según las Escrituras. El "Tengo sed" sería, como una gran epíclesis de Cristo sobre la humanidad, invocando sobre ella el don del Espíritu.
-Aplicaciones
Una primera aplicación, en la línea del tema de los escrutinios, es invitar a examinar nuestro corazón: ¿es como el de los israelitas, duro y rebelde, desconfiado de la presencia de Dios en la vida? ¿está abierto a la palabra del Señor para seguir sus caminos? ¿Qué hacemos de especial durante la Cuaresma, para intensificar el contacto con la Palabra de Dios? ¿Nos damos cuenta, en acción de gracias de los dones que Dios nos ha hecho, por JC, en el Espíritu Santo? Y en consecuencia, ¿tenemos el sentido del pecado como alejamiento de Dios y como rechazo de sus dones? ¿Cómo alimentamos esta llama del Espíritu que hay en nosotros? ¿De qué tenemos sed, exactamente? ¿O estamos demasiado satisfechos...? ¿Qué conciencia tenemos de estar bajo la gratitud de Dios? Una segunda aplicación, sugerida por la colecta de hoy, es la práctica de las obras de penitencia, como manifestación y ejercicio de conversión. Dar de beber al sediento adquiere, hoy, un sentido altamente simbólico, que va desde la atención a los pobres hasta el testimonio de la vida cristiana, la enseñanza religiosa, la evangelización...
-Introducción a la Eucaristía
Lo que Jesús realizó con la samaritana, continúa haciéndolo con los catecúmenos y los fieles, con la Iglesia, actualizando en cada celebración el misterio de su pascua para nosotros.
Que su acción sea tan eficaz en nosotros como lo fue en el corazón de la samaritana (quod in nobis mysterio geritur, opere impleatur). Es el fruto de la Eucaristía, prenda desde ahora del misterio celestial (postcomunión).
PERE TENAMISA DOMINICAL 1990/06

3° Domingo da Quaresma (Frei Faustino Paludo, ofm cap)

Jesus e a samaritanaNeste Domingo da Quaresma, o Evangelho nos apresenta um fato de grande beleza, verdadeiro itinerário da fé cristã. Próximo a um poço, Jesus encontra a samaritana, para a qual oferece o dom da água viva (Jo 4,1-42). Cansado da viagem, Jesus senta-se próximo ao poço de Jacó; movido pelo amor misericordioso de Deus Pai, desafia os preconceitos e os tabus de seu tempo (cf. Jo 4,27). Pouco depois, chega ao local uma samaritana. Ele inicia a conversa pedindo-lhe água. A mulher se espanta: "Como é que tu, um judeu, pedes de beber a mim, que sou samaritana?". A água do poço é o símbolo da esperança e da felicidade. O diálogo toca o coração da mulher, que descobre, aos poucos, a possibilidade de um novo relacionamento com Deus, muito diferente do culto institucionalizado e praticado na montanha ou no Templo.Quem é a mulher com quem Jesus se encontra e pede água? É alguém que leva no coração uma história de traições e de relações feridas. Talvez vá ao poço em hora insólita para não ser vista. Está em busca de algo novo e mais profundo e, quando o encontra, torna-se outra pessoa. Sua história representa a trajetória do povo de Israel. A história dos "amores", dos adultérios, das traições: o Messias encontra a esposa infiel próximo ao poço e a reconduz ao primeiro amor, o Senhor.Jesus percebe o mal-estar interior que o passado de aventuras causou na samaritana, que se revela à medida que as inquietudes da mulher se desvelam. Ela passa do vazio para a plenitude que a entusiasma. Torna-se meditativa e confiante, porque o misterioso Mestre não a condena, mas fala-lhe com palavras novas que lhe tocam o coração sedento de vida nova. O cântaro, símbolo da sede e de afetos não saciados, torna-se agora inútil, é abandonado (cf. Jo 4,28). A samaritana entra em cena "como uma mulher da Samaria" e sai como conhecedora da fonte de "água viva", consciente de que foi tocada pelo Senhor. Transforma-se em uma adoradora em espírito e verdade. A água viva é dom gratuito. Como discípula e missionária, ela corre e anuncia: "Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Tenho quase certeza de que ele é o Cristo". Suscita a fé e conduz o povo da cidade ao encontro com Jesus. A partir desse dia, muitos samaritanos abraçaram a fé em Jesus por causa do testemunho da mulher e outros acreditaram pela palavra que ouviram do próprio Jesus: "Nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo". O dom de Deus é realmente água nascente que purifica, mata a sede e renova quem busca o caminho da salvação!

3° Domingo da Quaresma (Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa)

A Água

A Quaresma, na Igreja primitiva, além de ser
um tempo de penitência e de conversão,
era um tempo de preparação para os batizados,
que aconteciam no sábado santo, na Vigília Pascal.

Por isso, nesses três domingos, que antecedem a semana santa,
aparece o tema batismal com os símbolos:
- da Água, no diálogo com a Samaritana,
- da Luz, na cura do cego;
- da Vida, na ressurreição de Lázaro.
Hoje nos apresenta o símbolo mais importante, a ÁGUA,
que exprime o milagre renovado da VIDA.

Na 1a Leitura, o povo pede ÁGUA (Ex 17,3-7)

No deserto, o povo reclama revoltado contra Moisés,
pedindo água, para manter-se vivo: "Dá-nos água para beber..."
E Deus intervém, fazendo brotar água da rocha de Horeb.
* Deus nunca abandona o seu povo na caminhada,
mesmo quando as dificuldades o fazem duvidar da bondade de Deus.
Os sofrimentos fazem parte da pedagogia de Deus.
Através deles nos faz crescer.

Na 2ª Leitura, São Paulo reafirma que Deus acompanha sempre o seu povo:
Apesar do pecado e da infidelidade, oferece sempre a Salvação. (Rm 5,1-2.5-8)

No Evangelho, Jesus pede e oferece ÁGUA à Samaritana. (Jo 4,5-42)

- Jesus cansado... sedento... senta-se ao lado do poço de Jacó...
Uma mulher anônima... balde vazio... coração vazio... busca água...
- JESUS quebra preconceitos de raça, de sexo, de religião...
e toma a iniciativa: "Dá-me de beber".
- A Mulher estranha... (os apóstolos também): falar com samaritana e mulher...
- E Jesus ajuda a mulher a descobrir em si mesma uma sede
mais profunda de amor, que nenhuma água deste mundo pode saciar,
pois apesar dos 5 maridos que já tivera, vivia um grande vazio...
- Inicialmente ela fica confusa... no final ela pede "dessa água".
Reconhece Jesus como "Salvador do Mundo",
o Templo onde Deus "deve ser adorado em espírito e verdade".
Abandona o "Velho balde" e corre para a cidade,
para anunciar ao povo a verdade que tinha encontrado.

+ O Caminho da Samaritana:
Esse Diálogo mostra a grande pedagogia de Jesus,
que se revela aos poucos, até chegar à manifestação plena.
- No começo, a mulher só pensa na água material (seus desejos, os maridos...)
- Aos poucos começa a compreender e aceitar a proposta de Jesus:
Inicialmente, ela vê nele apenas um judeu viajante;
depois, o chama de "Senhor"; em seguida, reconhece que é um Profeta;
No final, descobre nele o Messias esperado pelo povo.
- Então abandona o cântaro que dá acesso às propostas limitadas de felicidade,
e corre até a cidade para anunciar a sua descoberta:
Essa mulher desprezada, após escutá-lo como DISCÍPULA,
torna-se MISSIONÁRIA de Cristo, antes mesmo dos apóstolos...

+ A água do poço é símbolo de todas as satisfações humanas,
na esperança de encontrar nelas a nossa felicidade,
mas que no fim deixam sempre muito vazio e muitas desilusões...
= Essa água não satisfaz plenamente, todos os dias precisamos voltar ao poço...

+ A água de Jesus é o espírito de Deus, o amor que enche os corações.
Só Cristo mata definitivamente a sede de vida e felicidade do homem.
Essa água nos faz pensar também no BATISMO,
que foi o nosso primeiro encontro com Jesus.

+ O nosso caminho...
No Diálogo de Jesus com a Samaritana, contemplamos o desabrochar
da plena revelação de nossa sede diante da Fonte da Vida.
Dessa sede corporal de água, que brota da terra, buscada pela mulher,
o Mestre divino nos conduz à água viva e à sede, que dela devemos ter, desejando e lutando pela verdadeira Vida.

- No passado, o POÇO sempre foi um lugar de ENCONTRO.
- Os homens continuam ainda hoje procurando um Poço,
para saciar sua sede profunda de vida.
Buscam cada vez mais "coisas" para saciá-la e nada os satisfaz.
- Cristo continua vindo ao nosso encontro. Senta perto do nosso poço e nos diz:
"Quem tiver sede... venha a mim... e beba..."

- Antes de nos encontrar com Cristo, também nós estávamos
preocupados com nossos problemas, desejos, ambições,
e o nosso coração estava sempre repleto de tristeza e insatisfação.
Precisávamos todos os dias voltar ao poço e encher o nosso balde...

- Um belo dia, o encontro com Cristo aconteceu...
A conversa com esse "Jesus" despertou em nós uma curiosidade,
que nos levou a conhecer melhor a pessoa de Cristo e sua mensagem.

- No final da caminhada, encontramos essa água viva, prometida por Jesus.
Abandonamos o "velho Balde" e sentimos a necessidade de correr
para anunciar a todos, como Missionários,
a nossa descoberta e a nossa felicidade...

Façamos nosso o pedido da Samaritana:
"Senhor, dá-nos sempre dessa água!"
à Com o canto: Eu te peço dessa água...