quarta-feira, 29 de abril de 2009

MENSAGEM DO SANTO PADREPARA O 46º DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES (3 DE MAIO DE 2009 - IV DOMINGO DE PÁSCOA)

«A confiança na iniciativa de Deus e a resposta humana»

Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio,
queridos irmãos e irmãs!
1. Por ocasião do próximo Dia Mundial de Oração pelas Vocações ao sacerdócio e à vida consagrada, que será celebrado no IV Domingo de Páscoa, dia 3 de Maio de 2009, desejo convidar todo o Povo de Deus a reflectir sobre o tema: A confiança na iniciativa de Deus e a resposta humana. Não cessa de ressoar na Igreja esta exortação de Jesus aos seus discípulos: «Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe» (Mt 9, 38). Pedi! O premente apelo do Senhor põe em evidência que a oração pelas vocações deve ser contínua e confiante. De facto, só animada pela oração é que a comunidade cristã pode realmente «ter maior fé e esperança na iniciativa divina» (Exort. ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis, 26).
2. A vocação ao sacerdócio e à vida consagrada constitui um dom divino especial, que se insere no vasto projeto de amor e salvação que Deus tem para cada pessoa e para a humanidade inteira. O apóstolo Paulo – que recordamos de modo particular durante este Ano Paulino comemorativo dos dois mil anos do seu nascimento –, ao escrever aos Efésios, afirma: «Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, do alto dos céus, nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que n’Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos seus olhos» (Ef 1, 3-4). Dentro da vocação universal à santidade, sobressai a peculiar iniciativa de Deus ter escolhido alguns para seguirem mais de perto o seu Filho Jesus Cristo tornando-se seus ministros e testemunhas privilegiadas. O divino Mestre chamou pessoalmente os Apóstolos «para andarem com Ele e para os enviar a pregar, com o poder de expulsar demónios» (Mc 3, 14-15); eles, por sua vez, agregaram a si mesmos outros discípulos, fiéis colaboradores no ministério missionário. E assim no decorrer dos séculos, respondendo à vocação do Senhor e dóceis à ação do Espírito Santo, fileiras inumeráveis de presbíteros e pessoas consagradas puseram-se ao serviço total do Evangelho na Igreja. Dêmos graças ao Senhor, que continua hoje também a convocar trabalhadores para a sua vinha. Se é verdade que, em algumas regiões, se regista uma preocupante carência de presbíteros e que não faltam dificuldades e obstáculos no caminho da Igreja, sustenta-nos a certeza inabalável de que esta é guiada firmemente nas sendas do tempo rumo à realização definitiva do Reino por Ele, o Senhor, que livremente escolhe e convida a segui-Lo pessoas de qualquer cultura e idade, segundo os insondáveis desígnios do seu amor misericordioso.
3. Por conseguinte o nosso primeiro dever é manter viva, através de uma oração incessante, esta invocação da iniciativa divina nas famílias e nas paróquias, nos movimentos e nas associações empenhados no apostolado, nas comunidades religiosas e em todas as articulações da vida diocesana. Devemos rezar para que todo o povo cristão cresça na confiança em Deus, sabendo que o «Senhor da messe» não cessa de pedir a alguns que livremente disponibilizem a sua existência para colaborar mais intimamente com Ele na obra da salvação. Entretanto, por parte daqueles que são chamados, exige-se-lhes escuta atenta e prudente discernimento, generosa e pronta adesão ao projeto divino, sério aprofundamento do que é próprio da vocação sacerdotal e religiosa para lhe corresponder de modo responsável e convicto. A propósito, o Catecismo da Igreja Católica recorda que a livre iniciativa de Deus requer a resposta livre do ser humano. Uma resposta positiva que sempre pressupõe a aceitação e partilha do projeto que Deus tem para cada um; uma resposta que acolhe a iniciativa amorosa do Senhor e se torna, para quem é chamado, exigência moral vinculativa, homenagem de gratidão a Deus e cooperação total no plano que Ele prossegue na história (cf. n. 2062).
4. Ao contemplar o mistério eucarístico – onde se exprime sumamente o dom concedido livremente pelo Pai na Pessoa do Filho Unigénito pela salvação dos homens, e a disponibilidade plena e dócil de Cristo para beber completamente o «cálice» da vontade de Deus (cf. Mt 26, 39) – compreendemos melhor como «a confiança na iniciativa de Deus» molde e dê valor à «resposta humana». Na Eucaristia, dom perfeito que realiza o amoroso projeto da redenção do mundo, Jesus imola-Se livremente pela salvação da humanidade. «A Igreja – escreveu o meu amado predecessor João Paulo II – recebeu a Eucaristia de Cristo seu Senhor, não como um dom, embora precioso, entre muitos outros, mas como o dom por excelência, porque dom d’Ele mesmo, da sua Pessoa na humanidade sagrada, e também da sua obra de salvação» (Carta enc. Ecclesia de Eucharistia, 11).
5. Quem está destinado a perpetuar este mistério salvífico ao longo dos séculos, até ao regresso glorioso do Senhor, são os presbíteros, que podem precisamente contemplar em Cristo eucarístico o modelo exímio de um «diálogo vocacional» entre a livre iniciativa do Pai e a resposta confiante de Cristo. Na celebração eucarística, é o próprio Cristo que age naqueles que Ele escolhe como seus ministros; sustenta-os para que a sua resposta cresça numa dimensão de confiança e de gratidão que dissipe todo o medo, mesmo quando se faz mais intensa a experiência da própria fraqueza (cf. Rm 8, 26-30), ou o ambiente se torna mais hirto de incompreensão ou até de perseguição (cf. Rm 8, 35-39).
6. A consciência de sermos salvos pelo amor de Cristo, que cada Eucaristia alimenta nos crentes e de modo especial nos sacerdotes, não pode deixar de suscitar neles um confiante abandono a Cristo que deu a vida por nós. Deste modo, acreditar no Senhor e aceitar o seu dom leva a entregar-se a Ele com ânimo agradecido aderindo ao seu projeto salvífico. Se tal acontecer, o «vocacionado» de bom grado abandona tudo e entra na escola do divino Mestre; inicia-se então um fecundo diálogo entre Deus e a pessoa, um misterioso encontro entre o amor do Senhor que chama e a liberdade do ser humano que Lhe responde no amor, sentindo ressoar no seu espírito as palavras de Jesus: «Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi e vos nomeei para irdes e dardes fruto, e o vosso fruto permanecer» (Jo 15, 16).
7. Este amoroso enlace entre a iniciativa divina e a resposta humana está presente também, de forma admirável, na vocação à vida consagrada. Recorda o Concílio Vaticano II: «Os conselhos evangélicos de castidade consagrada a Deus, de pobreza e de obediência, visto que fundados sobre a palavra e o exemplo de Cristo e recomendados pelos Apóstolos, pelos Padres, Doutores e Pastores da Igreja, são um dom divino, que a mesma Igreja recebeu do seu Senhor e com a sua graça sempre conserva» (Const. dogm. Lumen gentium, 43). Temos de novo aqui Jesus como o modelo exemplar de total e confiante adesão à vontade do Pai para onde deve olhar a pessoa consagrada. Atraídos por Ele muitos homens e mulheres, desde os primeiros séculos do cristianismo, abandonaram a família, os haveres, as riquezas materiais e tudo aquilo que humanamente é desejável, para seguir generosamente a Cristo e viver sem reservas o seu Evangelho, que se tornou para eles escola de radical santidade. Ainda hoje são muitos os que percorrem este itinerário exigente de perfeição evangélica, e realizam a sua vocação na profissão dos conselhos evangélicos. O testemunho destes nossos irmãos e irmãs, tanto nos mosteiros de vida contemplativa como nos institutos e nas congregações de vida apostólica, recorda ao povo de Deus «aquele mistério do Reino de Deus que já actua na história, mas aguarda a sua plena realização nos céus» (Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata, 1).
8. Quem pode considerar-se digno de ingressar no ministério sacerdotal? Quem pode abraçar a vida consagrada contando apenas com os seus recursos humanos? Mais uma vez convém reafirmar que a resposta da pessoa à vocação divina – sempre que se esteja consciente de que é Deus a tomar a iniciativa e é Ele também a levar a bom termo o seu projeto salvífico – não se reveste jamais do cálculo medroso do servo preguiçoso, que por medo escondeu na terra o talento que lhe fora confiado (cf. Mt 25, 14-30), mas exprime-se numa pronta adesão ao convite do Senhor, como fez Pedro quando, apesar de ter trabalhado toda a noite sem nada apanhar, não hesitou em lançar novamente as redes confiando na palavra d’Ele (cf. Lc 5, 5). Sem abdicar de forma alguma da responsabilidade pessoal, a resposta livre do homem a Deus torna-se assim «corresponsabilidade», responsabilidade em e com Cristo, em virtude da ação do seu Santo Espírito; faz-se comunhão com Aquele que nos torna capazes de dar muito fruto (cf. Jo 15, 5).
9. Emblemática resposta humana, repleta de confiança na iniciativa de Deus, é o «Amen» generoso e total da Virgem de Nazaré, pronunciado com humilde e decidida adesão aos desígnios do Altíssimo, que lhe foram comunicados pelo mensageiro celeste (cf. Lc 1, 38). O seu «sim» pronto permitiu-Lhe tornar-Se a Mãe de Deus, a Mãe do nosso Salvador. Maria, depois deste primeiro «fiat», teve de o repetir muitas outras vezes até ao momento culminante da crucifixão de Jesus, quando «estava junto à cruz», como refere o evangelista João, compartilhando o sofrimento atroz do seu Filho inocente. E foi precisamente da cruz que Jesus agonizante no-La deu como Mãe e a Ela nos entregou como filhos (cf. Jo 19, 26-27) – Mãe especialmente dos sacerdotes e das pessoas consagradas. A Ela quero confiar todos quantos sentem o chamamento de Deus para caminhar pela senda do sacerdócio ministerial ou da vida consagrada.
10. Queridos amigos, não desanimeis perante as dificuldades e as dúvidas; confiai em Deus e segui fielmente Jesus e sereis as testemunhas da alegria que brota da união íntima com Ele. À imitação da Virgem Maria, que as gerações proclamam bem-aventurada porque acreditou (cf. Lc 1, 48), empenhai-vos com toda a energia espiritual na realização do projeto salvífico do Pai celeste, cultivando no vosso coração, como Ela, a capacidade de maravilhar-se e adorar Aquele que tem o poder de fazer «grandes coisas», porque Santo é o seu nome (cf. Lc 1, 49).

Vaticano, 20 de Janeiro de 2009.

IV Domingo do Tempo Pascal

Entre as imagens preferidas do Oriente Médio com certeza se sobressai a do pastor. É uma figura querida, amada. É o símbolo da fidelidade a o que é pouco; um “pequeno rebanho” é suficiente para ter um pastor e a ele pouco importa o número de ovelhas: ele é pastor de uma como de cem ovelhas, pois estas só precisam de um único ponto de referência. Dois pastores, num rebanho, são obsoletos, pois a inteira grei se move sempre olhando para um só ponto de referência, no caso, o pastor. Entende-se então o respeito que se tinha pela imagem do pastor em seu sentido originário, o mais singelo. Contudo, à medida que o sistema social e econômico de Israel ia mudando e a dimensão do lucro ia sufocando a economia doméstica que tanto valorizava o pastor, a sua figura ficou desbotada, empobrecida. Desvaneceu a poesia e os valores ligados a esta imagem e o pastor acabou se transformando em simples empregado, que não tinha interesse nem ligação alguma com o seu rebanho. Na época de Jesus os pastores eram contados entre os pecadores; eram considerados suspeitos, pois fraudavam quanto ao leite, à pele e ao peso da lã que deviam ao patrão do rebanho. Além disso, eram muito pouco religiosos e acusados de imoralidade. Mas não era assim no início; entre as figuras de linguagem mais expressivas para indicar o quanto Deus ama o seu povo, a mais antiga a encontramos no livro de Gênese. Jacó, antes de morrer deixa uma benção para cada um dos patriarcas das tribos de Israel; a José garante a benção que virá «pelo Pastor, pela Pedra de Israel, o qual te ajudará; pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com bênçãos dos altos céus» (Gen. 49,24-25). Deus é “rocha” e “pastor”; isto é, firmeza e fiel cuidado. Israel é o rebanho, o qual não sobrevive sem o seu pastor.
Por outro lado, lemos a veemência com a qual o profeta Ezequiel investe contra os falsos pastores, isto é contra aqueles que aproveitam da fragilidade natural da ovelha para própria vantagem. Não creio que seja inoportuno ler uma parte do trecho com o qual o Profeta expressa toda a decepção e a mágoa de Deus, o qual vê a sórdida malícia daqueles que se aproveitam dos mais frágeis: «Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não deveriam os pastores apascentar as ovelhas? Vós vos nutris de leite, matais as goradas, vos revestis de sua lã; mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, … mas dominais sobre elas com rigor e dureza. Assim, se espalharam, por não haver pastor e se tornaram pasto para todas as feras do campo» (Ez. 34,2-4). Na ocasião deste oráculo, Ezequiel não deixa a decepção triunfar e, em nome de Deus assim continua: «Eu mesmo tomarei conta das minhas ovelhas… suscitarei um pastor que as apascentará». Ora, nos surpreende a coincidência: Jahvé diz que ele mesmo cuidará do seu rebanho, por outro lado diz que ele suscitará um pastor; o “Pastor” e Jahvé parecem coincidir. Pois bem, sendo assim, podemos perceber imediatamente o impacto das palavras de Jesus quando, então, se define “o Pastor”. Estamos diante de um dos mais antigos e profundos momentos da auto-revelação de Jesus: Ele se declara “Deus-enquanto-apascenta”.
Como os fariseus não considerariam isto uma blasfêmia? E temos mais.
Para compreender melhor o peso da afirmação de Jesus e não parar num moralismo simplório sobre o comportamento (pois não é somente disso que Jesus fala, não é este o núcleo do trecho), creio que possamos aproveitar de um outro conceito que o mundo da época associava ao pastor.
Em escritos e baixo-relevos dos Assírios e na Babilônia, a figura do Pastor é associada àquela do Rei Justo, do rei que, por sua justiça, irá instaurar um reino que durará, destinado a não cair como todos os outros reinos injustos. O Pastor é então rei de um reino que não tem ocaso. É portador de uma nova lógica, de um novo critério de vida, carrega em si a possibilidade de que as esperanças dos mais frágeis sejam realizadas. É um rei de esperança na certeza do êxito. Pois bem, ao declarar-se “o Pastor”, Jesus está indicando que Ele é o portador desta esperança que os frágeis carregam dentro de si como um sonho, mas que Nele é realização certa porque Ele é Deus-Pastor, que dá a sua vida. Esta lógica de amor sem fim é a realidade que permanecerá para sempre. Abrindo por primeiro e indicando até aonde é preciso amar –até os inimigos- Jesus deixa entrever a diferença entre o que instaura reinos passageiros e o que estabelece o reino de Deus, o único reino que permanecerá para sempre. Um reino onde a ovelha mais fraca tem o seu lugar, onde alguém se importa com ela, onde à lógica da exploração se pode responder com a lógica do cuidado amoroso. O amor é doação: «o bom pastor dá a sua vida». Isto é o que distingue e fundamenta o reinado de Jesus. É a força atraente do amor que sabe dar.
Permito-me apontar mais um aspecto que nos é sugerido por este trecho tão rico.
Porque Jesus se define “bom”?
Certamente precisamos levar em consideração a diferença que o Senhor aponta entre o mercenário e o pastor; mas creio que seja coisa bem escassa se esgotarmos o seu significado nesta questão ética e moral tão obvia. Bem, podemos recorrer aos costumes dos antigos pastores nômades de Israel, quem sabe, poderemos encontrar alguma inspiração para entender a expressão de Jesus.
Hoje, a nossa maneira de criar ovelhas é “industrializada”, o rebanho é “confinado” para dar mais lucro. Para isso temos à disposição uma área plantada com forragens: um campo do qual as ovelhas não saem. O tempo, o adubo e a chuva fazem crescer o pasto. Mas não era assim no ambiente de Jesus nem dos seus antepassados. Imaginemos um grupo de pessoas de então, um clã que vive do seu rebanho e com o seu rebanho, dia após dia. A vida dos dois corre ao uníssono. Mas ali, diferentemente das nossas regiões, não chove com tanta freqüência; o pastor não pode ficar “esperando a chuva”, agir assim significa morte certa para todo o clã e para o rebanho. O pastor, o bom pastor, deve saber reconhecer quando e onde choverá, deve saber reconhecer com antecedência suficiente para desmontar o acampamento, organizar o clã e o rebanho para empreender a nova viagem rumo à chuva, à vida. O bom pastor sabe quando e onde. Sente.
Ele “sabe” e por isso pode conduzir rumo a uma meta de vida. É assim que Jesus se interpreta e se oferece aos homens que decidem confiar nele. Levantar todo um acampamento era um risco, significava abandonar uma área com um mínimo de garantia para se arriscar empreendendo mais um outro caminho. Quem faria isso? No entanto o bom pastor sabia que aquela aparente segurança aos poucos se transformaria em morte! Era preciso abandona-la antes mesmo que esgotasse todos os seus recursos.
Assim age Jesus conosco quando nos pede de deixar aquilo que para nós é já algo satisfatório, que nos basta, que parece “estar bem assim”; Jesus sabe que isto esgota e se transforma em morte do nosso espírito, o qual é incansavelmente atraído para o infinito, que é Deus, mesmo que nós não o percebamos, mesmo que nós não o reconheçamos, mesmo que nós nos perguntemos o porquê ter que deixar algo que é garantido por algo que não conhecemos, que não controlamos...
Jesus é o bom pastor que não deseja a derrota de suas ovelhas, não deseja que fiquem sem a água da vida simplesmente porque ninguém as empurrou rumo a novos pastos.
Não cério que possamos encontrar na Escritura uma descrição mais significativa deste belíssimo diálogo entre o pastor e a ovelha como no Sal. 23 «O Senhor é o meu pastor: mesmo que eu passe por um vale árido, sombrio, porque temerei? O Senhor está comigo!». O que mais eu preciso? Se Ele me ama a ponto da dar a sua vida, porque temer quando não vejo...?
Que a imagem do bom pastor reforce em cada um de nós a coragem de aderir, sem colocar condições, certos de que o bom pastor sabe “onde” e “quando”…

IV Domingo do Tempo Pascal

O Bom Pastor

O 4º domingo de Páscoa é conhecido como o Domingo
do BOM PASTOR, porque nele todos os anos,
Jesus é apresentado como o "Bom Pastor".

- No Antigo Testamento, essa imagem aparece com freqüência…
Grandes personagens foram pastores (Abel… Moisés… Davi…)
Num país árido, a presença do pastor era vital para a ovelha sobreviver...
O pastor passava o dia todo com ela e estabelecia profunda identidade com ela.
- O próprio Deus se compara a um Pastor,
que guia, defende e alimenta o seu povo (Sl 80).
- Quase todos os Reis de Israel foram "Maus pastores",
que conduziram o Povo por caminhos de morte e desgraça.
Por isso, o Senhor promete:
"Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas". (Ez 34,15)

Na 1ª Leitura, São Pedro afirma que Jesus é o único Salvador,
pois ele é o único Pastor, que nos conduz à verdadeira vida.
E os discípulos são convidados a testemunhar essa salvação,
mesmo em condições adversas e hostis, animados pelo Espírito. (At 4,8-12)

Na 2ª Leitura João convida a contemplar o grande presente do amor de Deus: sermos chamados filhos de Deus. (1Jo 3,1-2)

No Evangelho, Jesus afirma: "Eu sou o BOM PASTOR". (Jo 10, 11-18)

É uma Catequese sobre a missão de Jesus: conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas, de onde brota a vida em plenitude.

O BOM PASTOR é diferente dos outros:
- Porque está disposto a DAR A VIDA pelas ovelhas que ama.
O mercenário no perigo abandona as ovelhas e foge…
- Porque CONHECE suas ovelhas e é conhecido por elas…
Ele as chama pelo nome… e elas o seguem…
"Conhecer" é mais do que um ato intelectual…
É comunhão de vida, como há entre ele e o Pai…

+ Quem são as ovelhas desse rebanho ?
Ele não se contenta com um rebanho de privilegiados (só um povo).
Ele deseja todos, mesmo os que estão afastados ou separados:
"Tenho ainda outras ovelhas que não são desse rebanho,
é preciso que eu as conduza. E elas ouvirão a minha voz.
E haverá um só rebanho e um só pastor".

* Esse apelo de Cristo nos pede:
- um zelo apostólico para cativar outras ovelhas
que ainda não descobriram o amor apaixonado do Bom Pastor...
- um espírito de unidade: que vença as barreiras que nos separam...
Ele não quer uma Igreja dividida em rebanhos separados...
É um convite ao verdadeiro ecumenismo...

+ Quem é o nosso Pastor, que nos aponta caminhos e nos dá segurança?

- O Pastor por excelência é CRISTO.
- Pastores são também o Papa, os Bispos, os padres...
- São também as pessoas que prestam um serviço
na família, na sociedade, no ambiente de trabalho...
- São também pessoas que receberam de Deus e da Igreja a missão
de presidir e animar, em nossas comunidades cristãs, apesar das suas limitações.
Mas o "único Pastor", que devemos escutar e seguir sem condições, é Cristo.
Os outros pastores têm uma missão válida se receberam de Cristo.
E a sua atuação nunca pode ser diferente do jeito de atuar de Cristo.

+ Como Cristo exerce a Missão de Pastor?
Ele não atua por interesse pessoal como o mercenário, mas por amor:
Ele aponta caminhos, defende as suas ovelhas no momento de perigo,
mantém uma relação pessoal com cada uma,
conhece os seus sofrimentos, sonhos e esperanças.

* E nós que tipo de pastores somos?
- Bons Pastores, voltados para as necessidades dos que recebem nossos serviços?
- Ou Mercenários, preocupados em levar alguma vantagem, prestígio ou poder?

+ Como reconhecer o "Bom Pastor"?
Para distinguir a "voz" do "Bom Pastor"
é preciso um permanente diálogo íntimo com Cristo,
um confronto permanente com a sua Palavra
e a participação ativa nos sacramentos,
onde ele nos comunica essa vida, que o Pastor nos oferece.

* Nascem duas importantes conclusões:
- A Comunhão de Cristo com o seu rebanho e em Cristo com o Pai;
- A Comunhão entre os seus discípulos.

+ Nesse domingo, celebramos o Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
- O próprio Jesus pediu: "Rogai ao dono da messe para que mande operários…"
- Com o tema: "A confiança na iniciativa de Deus e a resposta humana",
o PAPA nos lembra em sua mensagem o dever de manter viva
uma oração incessante nas famílias e nas comunidades...
Acolhamos o apelo do Papa e façamos já dessa celebração
um momento forte de oração pelas vocações

Acolhamos o apelo do Papa e façamos já dessa celebração
um momento forte de oração pelas vocações…
Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa

Domingo 4 del Tiempo de Pascua

Jesucristo no sólo nos ha salvado, sino que nos ha dado mucho más que eso. Pero comencemos con lo de la salvación, revisando las Lecturas de este Domingo.
Nadie más que Jesucristo puede salvarnos, "pues en la tierra no existe ninguna otra persona a quien Dios haya constituido como salvador nuestro" (Hech. 4, 12). Así vemos en la Primera Lectura cómo habló San Pedro, el primer Papa, al responder a quienes lo interrogaban pretendiendo juzgarlos por la curación de un lisiado y porque estaban predicando que Jesús había resucitado. Pedro les echó en cara: "Este hombre ha quedado sano en el nombre de Jesús de Nazaret, a quien ustedes crucificaron y a quien Dios resucitó de entre los muertos".
Jesucristo es el Salvador. Eso se dice ¡tan fácil! y se ha repetido tantas veces ... pero no parece tan aceptado como debiera serlo. Al menos, no parece tan aprovechado. La salvación de Jesucristo nos ha sido dada de gratis, sin ningún esfuerzo de nuestra parte. Sólo debemos aprovechar las gracias que por esa salvación nos han sido dadas. Pero ... ¿realmente las aprovechamos? ¿Aprovechamos todas las gracias que el Señor quiere darnos?
Además, si nos fijamos bien, no todos aceptamos la salvación que Jesús nos vino a traer. Por citar sólo un ejemplo actual: la re-encarnación. La creencia en ese mito pagano no se queda en pensar que en nuevas vidas seremos otras personas ... si es que eso fuera posible.
Una de las consecuencias de este engaño que es la re-encarnación, es el pensar que nosotros nos podemos redimir nosotros mismos a través de sucesivas re-encarnaciones, purificándonos un poco más en cada una de esas supuestas vidas futuras. Así que, al creer en la re-encarnación, de hecho estamos rechazando la redención que sólo Cristo puede darnos. Y quedamos de nuestra cuenta para salvarnos (???!!!).
Ahora bien, Jesucristo no sólo vino a salvarnos, es decir, a rescatarnos de la situación de secuestro en que estábamos después del pecado de nuestros primeros progenitores, sino que -como San Juan nos recuerda en la Segunda Lectura- por su gracia "no sólo nos llamamos hijos de Dios, sino que realmente lo somos" (1ª Jn. 3, 1-2).
Y realmente lo somos, porque Dios nos comunica su Vida, su Gracia; porque, durante nuestra vida en la tierra nos guía como sus hijos que somos. Y, además, porque recibiremos una herencia: el Cielo prometido a aquéllos que se comporten como hijos, es decir, a los que aquí en esta vida seamos obedientes a la Voluntad del Padre.
¿Nos damos cuenta de este privilegio: ser hijos de Dios y poder llamar a Dios "Padre", porque realmente somos sus hijos? Ser “hijo(a) de Dios” se dice tan fácilmente... Pero ¿nos damos cuenta que Jesucristo, el Hijo Único de Dios, no sólo nos ha salvado, sino que ha compartido Su Padre con nosotros, para que seamos también hijos(as)? … ¿Agradecemos a Dios este altísimo privilegio … o lo tomamos como un derecho merecido?
Continúa San Juan explicándonos la dimensión y las consecuencias de este especialísimo privilegio de la filiación divina: “Ahora somos hijos de Dios, pero aún no se ha manifestado cómo seremos al fin. Y ya sabemos que, cuando El se manifieste, vamos a ser semejantes a El, porque lo veremos tal cual es".
San Pablo nos explica así esto mismo en varias citas de sus cartas:
"Al presente vemos como en un mal espejo y en forma confusa, pero luego será cara a cara. Ahora solamente conozco en parte, pero luego le conoceré a El como El me conoce a mí." (1ª Cor. 13, 12-13).
"Cuando se manifieste el que es nuestra vida, Cristo, ustedes también estarán en gloria y vendrán a la luz con El" (Col. 3, 4).
"También los destinó a ser como su Hijo y semejantes a El ... y después de hacerlos justos, les dará la gloria" (Rom. 8, 29-30).
En el Evangelio vemos por qué todo esto es así. Jesús se nos identifica de diversas maneras. Una de sus identificaciones favoritas de todos los que somos sus seguidores es ésta de hoy: el Buen Pastor. "Yo soy el Buen Pastor que da la vida por sus ovejas" (Jn. 10, 11-17) .
Y sabemos que Jesús cumplió con esta promesa de dar su vida por cada uno de nosotros, ovejas de su rebaño. Sabemos que su vida la dio, pero, como nos dice en este Evangelio, también la recuperó. Y la recuperó con gloria, porque resucitó. Y con su resurrección nos da a todos los que le seguimos y le imitamos, la gloria que El tiene y que da a las ovejas de su rebaño.
¿Quiénes son las ovejas de su rebaño? Jesús las identifica en este Evangelio. Son los que conocen su voz, porque lo conocen a El y le siguen. Esos resucitarán como El resucitó y “serán semejantes a El”, como nos dice San Juan en la Segunda Lectura, porque tendrán la gloria que es suya y que conoceremos cuando lo veamos “cara a cara, tal cual es”.

Comentário ao Evangelho do dia feito por Santo António de Lisboa (c. 1195-1231)

«O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas»
«Eu sou o bom pastor». Cristo pode dizer com propriedade «Eu sou». Para Ele nada pertence ao passado nem ao futuro: tudo Nele é presente. É o que Ele diz de si mesmo no Apocalipse: «Eu sou o Alfa e o Ómega, aquele que é, que era e que há-de vir, o Todo-Poderoso» (Ap 1, 8). E no Êxodo: «Eu sou Aquele que sou. Assim dirás aos filhos de Israel: «'Eu sou' enviou-me a vós»» (Ex 3, 14).«Eu sou o bom pastor». A palavra «pastor» vem do termo «pastar». Cristo serve-nos o repasto da Sua carne e do Seu sangue, em cada dia, no sacramento do altar. Jessé, pai de David, disse a Samuel: «Resta ainda o [filho] mais novo, que anda a apascentar as ovelhas» (1Sm 16, 11). Também o nosso David, pequeno e humilde como um bom pastor, apascenta as suas ovelhas. [...] Lemos ainda em Isaías: «É como um pastor que apascenta o rebanho [...] leva os cordeiros ao colo e faz repousar as ovelhas que têm crias» (Is 40, 11). [...] Com efeito, ao conduzir o seu rebanho à pastagem, ou ao regressar de lá, o bom pastor reúne todos os cordeirinhos que ainda não conseguem andar; toma-os nos braços e leva-os junto ao peito; leva também as ovelhas que vão dar à luz e as que acabaram de ter os filhos. Assim faz Jesus Cristo: dia após dia alimenta-nos com os ensinamentos do Evangelho e os sacramentos da Igreja. Reúne-nos nos Seus braços, estendidos sobre a cruz, «para congregar na unidade os filhos de Deus que estavam dispersos» (Jo 11, 52). Aconchega-nos no seio da Sua misericórdia, como uma mãe aconchega o seu filho.

IV Domingo do Tempo Pascal

O 4º Domingo da Páscoa é considerado o "Domingo do Bom Pastor", pois todos os anos a liturgia propõe, neste Domingo, um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como "Bom Pastor". É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.O Evangelho apresenta Cristo como "o Pastor modelo", que ama de forma gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a vida por elas. As ovelhas sabem que podem confiar nele de forma incondicional, pois ele não busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho. O que é decisivo para pertencer ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para "escutar" as propostas que ele faz e segui-lo no caminho do amor e da entrega.A primeira leitura afirma que Jesus é o único salvador, já que "não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos" (neste "Domingo do Bom Pastor" dizer que Jesus é o "único salvador" equivale a dizer que ele é o único pastor que nos conduz em direcção à vida verdadeira). Lucas avisa-nos para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação.Na segunda leitura, o autor da primeira carta de João convida-nos a contemplar o amor de Deus pelo homem. É porque nos ama com um "amor admirável", que Deus está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de fragilidade. O objectivo de Deus é integrar-nos na sua família e tornar-nos "semelhantes" a Ele.
www.ecclesia.pt