quinta-feira, 19 de junho de 2008

12° Domingo do Tempo Comum (Pe Carlo)

A passagem de hoje se coloca dentro de um conjunto de indicações para os discípulos; é como um “compêndio” que o discípulo deve sempre ter presente em sua vida. A perspectiva de Mateus dá relevo ao anúncio como sendo a missão principal dos discípulos. É um anúncio que visa primeiramente reunir as «ovelhas perdidas», como estava na intenção de Jesus, para depois se expandir ao mundo dos gentios (“gens” na língua latina significa “os outros povos”). Contudo, se o anúncio da presença do Reino, tão esperado pelos judeus, estava sendo tão hostilizado pelos próprios detentores da doutrina religiosa e do culto de Israel, o que mais podia se esperar do mundo dos pagãos? Quando o Evangelista escreve, a comunidade cristã já contava com um bom número de pessoas que do paganismo haviam aderido à fé; mas, junto com esta maravilhosa abertura, também vinham as grandes diferenças com aquele mundo. A fé cristã propunha um conjunto de valores conseqüentes à vida e ao ensinamento de Jesus que não cabiam na estrutura do pensamento antigo. Bem diferente era a visão que a fé cristã propunha quanto ao homem, às suas relações, à sua dignidade, à igualdade entre homens e mulheres, escravos e livres perante de Deus... Foi a fé cristã que trouxe ao mundo os valores que, ainda hoje, estão na base da Declaração dos Direitos Humanos proclamada em 1948 logo depois dos horrores da 2ª guerra, que mostrou ao mundo inteiro, nos campos de extermínio e nas ogivas nucleares lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, do que o homem é capaz quando a sua mente é “pagã” (o termo tem origem na Grécia e indicava as pessoas entrincheiradas em suas posições, não abertas a visões novas). A reação dos “pagãos” de então foi muito violenta contra os cristãos -mesmo que de modo sorrateiro- bem antes das famosas perseguições de Nero, Décio, Diocleciano etc.
A redação final deste Evangelho é comumente atribuída em torno do ano 70, isto é, logo após a perseguição de Nero do ano 64 na qual perderam a vida Pedro e Paulo. É neste contexto então que podemos começar a ler este trecho do Evangelho. É um anúncio de esperança quando tudo parece sem sentido, quando o poder esmagador dos fortes parece tornar inútil qualquer proposta sensata que se possa fazer em favor da vida e da dignidade humana. Quando “ser cristão” corresponde a uma opção que pode custar mais caro do que se imagina.
Não será ainda hoje este trecho um consolo e como um forte abraço de Deus àqueles que ainda sofrem por causa da fé? É preciso ser realista, não podemos esconder o sangue dos mártires, pois é sobre este que se alimenta a Igreja, sobre o amor incondicional capaz de renunciar à vida, na fidelidade ao amor de Jesus. Falar das perseguições como algo “do passado” é uma grande mentira do mundo pagão. Segundo a organização dos direitos humanos “Realase International”, em 2007 cerca de 250 milhões de cristãos foram perseguidos em Países como a Nigéria, Somália, Arábia, Indonésia... Foram banidos de seus Países, terras, povos, perderam o trabalho por causa da fé, sem direito de culto ou palavra ou defesa em tribunal, impossibilitados a vender seus produtos ou cortados fora das vias de acesso às suas cidades condenados a morrer de fome... Dados mais assustadores comprovam que desde o início de 1900 foram mortos por causa da fé quase 200.000.000 de cristãos nas perseguições de Mao Tse-tung, de Stalin, na Camboja, México, Espanha, África... Não será ainda este Evangelho importante para quem sofre assim? Terão sentido as palavras: «Não os temais»?
Talvez estejamos diante de um dos mistérios de Deus menos compreensíveis e menos aceitáveis para a lógica humana. Com certeza Jesus não quer dar resposta alguma ao drama gerado pela opressão dos mais fortes, drama tão bem expresso pelas palavras de Jeremias:«Tu és justo demais, ó Senhor para que eu possa discutir contigo; contudo, gostaria de perguntar sobre a justiça: “Por que prospera o caminho dos perversos, e vivem bem todos os que procedem perfidamente?”» (Jer. 12,1). A revolta descrita no Profeta Malaquias poderia ser a nossa: «Vós dizeis: “Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos?» (Mal. 3,14). O que Jesus dar não é uma resposta, pois uma resposta nem sempre muda as situações, suas palavras simplesmente colocam o homem de fé num outro plano.
Antes de tudo é necessário ter esta certeza: mesmo que as situações absurdas conduzam à maior contradição com a dignidade do ser humano, mesmo que a situação afunde nas maiores trevas...Ele fala e continua falando. Não há lugar aonde não possa ser percebida a voz e a presença de Deus, pois é justamente nesta condição que Ele se fez conhecer por aquilo que é. Um Deus do triunfo é obvio demais para ser amado e percebido como amigo que “sabe o que significa…”. Um Deus que partilha os dramas do homem que não está do lado vencedor é sem dúvida menos fácil de compreender.
«O que vos digo na escuridão dizei-o à luz do dia». Ouvimos de Mateus que o Senhor ainda é capaz de dizer-nos uma palavra no meio das trevas que engrossam à medida em que Deus desaparece da vida das pessoas. Eis então que a segunda parte deste versículo indica aos discípulos como agir “nas trevas”. Em primeiro lugar Jesus censura a atitude de quem age por medo: em situações onde o medo abunda, onde parece dominar tudo, até o nosso mundo interior, ainda ali se faz presente a mão forte e protetora de Deus, por quanto absurdo possa parecer. Quando deixamos o medo dominar, renunciamos à liberdade de escolher, de escolher “como” viver uma situação desastrosa. É este “como” que faz a diferença, pois de qualquer maneira, alguns têm o poder de «matar o corpo», mas o medo pode até matar o espírito e conduzir o homem ao inferno (o que, na linguagem bíblica significa algo que é abaixo da dignidade e da vocação humana). Em qualquer lugar, se ouvirmos, será possível encontrar e se agarrar na mão de Jesus para viver o paradoxo com aquela liberdade da qual o homem é capaz ao lado de Jesus.
A segunda indicação que Jesus dá é «proclamar à luz do dia» o que Deus diz nas trevas. Quantas santas pessoas souberam, em situações de trevas, sair do próprio mundo, violentado e ferido, esquecer das próprias justas lágrimas para se projetar em direção de outros que sofrem tanto quanto! Esta é a luz, é a maneira da Luz, Jesus, de viver o drama da cruz. Proclamar à luz do dia não significa fingir que o drama não existe, mas ilumina-lo com a atitude que Jesus teve, par que a mesma “luz” possa atingir as pessoas que estão sufocando nas trevas.
Tempo atrás, em Jerusalém, fui visitar uma grandiosa obra que impressionava pela cruel realidade que representava: num túnel escuro, onde os espelhos contrapostos faziam perder a dimensão do espaço; ali, um atrás te outro, eram pronunciados os nomes, a idade e o lugar onde morreram as vitimas do nazismo. Sem dúvida uma belíssima representação das trevas... mas não havia uma palavra de perdão! Uma palavra de esperança que iluminasse. Saí com um profundo vazio e uma pergunta: “É isto o que Jesus faria?”.
O texto que estamos lendo nos remete também à maneira com a qual o Senhor fala e nos introduz para o núcleo do mistério. A frase: «o que escutais ao pé do ouvido», faz referência a um trecho de Isaías; trata-se de um poema no qual, tipologicamente, é descrito o projeto e o caminho com o qual Deus escolheu conduzir o homem em direção de algo diante do qual «até os reis ficarão calados» (Is. 52,15). Segundo este poema, a realização do projeto de salvação passa pela adesão incondicional do “Servo de Jhavé” a Deus, o qual «a cada manhã sussurra ao seu ouvido» (Is. 50,4). A expressão indica a total sintonia entre aquele que fala “cada dia” –e não tudo de uma vez, como todos nós gostaríamos- e quem está simplesmente disposto a escutar. Deus fala quase suspirando ao ouvido de modo que a Sua presença possa apenas ser percebida se o ouvido estiver aberto. O homem de Deus, o discípulo verdadeiro «grita dos telhados» a presença de Deus, a transmite com sua confiança e entrega amorosa mesmo numa situação absurdamente desumana. Isto faz a diferença. O discípulo participa de modo reflexo mas com todo o consciente envolvimento, como seu “sim” á «loucura de Deus» (1Cor. 1,25) coma qual o Onipotente se fez impotente, dobrando-se à liberdade do homem que pode escolher entre um mundo com Deus e um mundo sem Deus.
Permito-me encerrar com as palavras de uma poesia de uma pessoa, Dietrich Bonhoeffer, que morreu nos campos nazistas, um teólogo luterano, uma alma privilegiada que não conseguiu perder a sua profunda relação com Deus naquele lugar que outros definiram como o “lugar da morte de Deus”.

“Cristãos ficam ao lado de Deus na sua paixão.É isto que distingue cristãos de pagãos. «Vocês não conseguem vigiar comigo nem por uma hora?», pergunta Jesus no Getsêmani.
Isto é uma inversão de tudo o que o ser humano religioso espera de Deus.
O ser humano é conclamado a compartilhar o sofrimento de Deus por causa do mundo sem Deus.” (Cristãos e pagãos)

12° Domingo do Tempo Comum (www.ecclesia.pt)

As leituras deste domingo põem em relevo a dificuldade em viver como discípulo, dando testemunho do projecto de Deus no mundo. Sugerem que a perseguição está sempre no horizonte do discípulo... Mas garantem também que a solicitude e o amor de Deus não abandonam o discípulo que dá testemunho da salvação. A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de um profeta do Antigo Testamento – Jeremias. É o paradigma do profeta sofredor, que experimenta a perseguição, a solidão, o abandono por causa da Palavra; no entanto, não deixa de confiar em Deus e de anunciar – com coerência e fidelidade – as propostas de Deus para os homens. No Evangelho, é o próprio Jesus que, ao enviar os discípulos, os avisa para a inevitabilidade das perseguições e das incompreensões; mas acrescenta: «não temais». Jesus garante aos seus a presença contínua, a solicitude e o amor de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo. Na segunda leitura, Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos projectos de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo e de auto-suficiência gera morte.www.ecclesia.pt

Imitação de Cristo, tratado espiritual do séc. XVII, cap. 1

«Não os temais, portanto, pois não há nada encoberto que não venha a ser conhecido".
Não tens aqui cidade de repouso, e onde quer que estejas és estranho e peregrino; e nunca terás repouso, a não ser quando estiveres intimamente unido a Cristo. Que procuras à tua volta, se este não é o lugar do teu descanso? A tua morada deve ser no céu, e tudo na terra deve ser visto como de passagem. Todas as coisas passam, e tu com elas. Toma cuidado, não te apegues, para que não sejas apanhado por elas e pereças.Que o teu pensamento esteja junto do Altíssimo, e a sua súplica se dirija sem cessar a Cristo. Se não consegues contemplar as coisas elevadas e celestes, descansa na Paixão de Cristo, e habita alegremente nas Suas santas chagas. Se assim te refugiares com devoção nas chagas e nos preciosos estigmas de Jesus, sentirás grande conforto na tribulação, não te importarás muito com as traições dos homens e facilmente suportarás as palavras malévolas. Também Cristo foi desprezado no mundo pelos homens, e abandonado, na maior necessidade, pelos conhecidos e amigos no meio das afrontas. Cristo quis sofrer e ser desprezado, e tu ousas queixar-te de alguma coisa? [...]Mantém-te com Cristo e por Cristo, se queres reinar com Cristo. Se uma única vez conseguisses entrar perfeitamente no coração de Jesus, e conhecesses um pouco o Seu amor ardente, não te importarias com o que te é agradável ou desagradável, mas alegar-te-ias com cada ofensa sofrida, pois que o amor de Jesus faz o homem desprezar-se a si próprio. Aquele que ama Jesus e a verdade, que é verdadeiro, interior e livre de afeições desordenadas, pode voltar-se facilmente para Deus, elevar-se em espírito acima de si próprio e descansar com proveito. Aquele para quem as coisas valem segundo são, e não segundo se diz ou pensa, esse é o verdadeiro sábio, e mais instruído por Deus do que pelos homens.

12º Domingo do Tempo Comum (Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa)

O Medo

No domingo passado, vimos que Deus chama e envia
inúmeras pessoas para realizar seu Plano de Salvação.

As leituras bíblicas deste domingo falam das dificuldades
que os discípulos encontrarão para serem fiéis a esse chamado,
mas garantem também que o amor de Deus não os abandona.

A 1a Leitura apresenta o drama vivido pelo profeta do JEREMIAS.
Para ser fiel à sua missão, experimenta perseguição, solidão e abandono.
No entanto não deixa de confiar em Deus. (Jr 20,10-13)

No começo, teve medo e resistiu:
"Vê, Senhor, que eu não sei falar, sou ainda menino".
- E o Senhor não desiste:
"Para onde eu te enviar, irás; e o que eu te mandar, falarás:
não tenhas MEDO, pois eu estarei contigo para te livrar".
- Acolhendo a ordem do Senhor, Jeremias vai a Jerusalém e
diante do templo pronuncia um discurso violento:
acusa as autoridades, desmascara suas trapaças e
prediz a destruição do templo de Jerusalém.
- A reação foi imediata: foi preso incomunicável numa cruel prisão...
Considerado um "Profeta da desgraça",
sentiu-se repudiado pelo povo e abandonado pela própria família...

- Aí surgem as "Lamentações de Jeremias", que são verdadeiros desabafos,
em que o profeta expõe a sua amargura.
No entanto não deixou de confiar em Deus, no seu poder, na sua justiça
e no seu amor e anunciar com coerência e fidelidade.
Ele sabe que Deus nunca abandona aqueles que procuram
testemunhar no mundo as suas propostas, com coragem e verdade.

Na 2ª Leitura, São Paulo afirma que para a salvação
o essencial não é cumprir a Lei de Moisés,
mas acolher a oferta de Salvação que Deus faz a todos por Jesus. (Rm 5,12-15)

O Evangelho continua O "Sermão apostólico".
São recomendações de Jesus ao enviar os apóstolos em Missão.
O tema central é a afirmação "não tenhais medo", repetido três vezes.
E aponta três tipos de medo, que poderão encontrar:

1. Medo do fracasso (fiasco).
JC. garante: Apesar das provocações e dificuldades,
a sua mensagem se difundirá e transformará o mundo...
2. Medo da morte: (maus tratos... ou a própria morte...)
JC. afirma que decisivo não é a morte física, mas perder a vida definitiva.
3. Medo pela sobrevivência (por causa da perseguição...):
JC. convida os discípulos a terem confiança na Providência de Deus.
E ilustra a solicitude de Deus com duas imagens:
Os pássaros de que Deus cuida e os cabelos que Deus conta...
Se Deus cuida dos pássaros... tanto mais dos discípulos do seu Filho...
Não tenhais medo dos homens... tende confiança em Deus!

+ O Medo ainda nos acompanha:
- Por Medo, a pessoa se tranca dentro de seu pequeno mundo,
cada vez mais se isola da sociedade.
- Por Medo, levanta muros protetores cada vez mais altos,
criam-se condomínios mais fechados e seguros,
como se isso resolvesse o problema do medo.
- Medo da doença... do desemprego... (Qual o nosso maior medo?)

O MEDO é também um grande impedimento
ao anúncio do Evangelho e à sincera profissão de fé.
- Por Medo de serem criticados ou desprezados,
muitos deixam de anunciar as maravilhas do Reino.
- Por Medo ou vergonha, muitos se omitem diante dos critérios em voga
sobre amor e família, sexo e casamento, matrimônio e divórcio, vida e aborto, educação e liberdade, dinheiro e direitos humanos.
E quando os princípios da moral cristã são taxados de antiquados,
ficam assustados, confusos, desorientados...
Será que vale a pena continuar remando contra a maré?
- E por medo ou vergonha, se calam... e cedem ao velho respeito humano...

Para esses, Jesus adverte: "Quem me negar diante dos homens,
também eu o negarei diante do meu Pai, que está nos céus".

A Palavra de Deus de hoje convida-nos a não ter medo.
Convida-nos a ter a coragem das nossas idéias, a intrepidez da fé,
a coragem do anúncio cristão, do testemunho...
a intrepidez da verdade.

Ele nos garante: "Não tenhais medo, eu venci o mundo".
E com ele também nós venceremos...

+ Dia do migrante: "Basta de Migração forçada"
- Vítima também do medo: do desemprego, da fome, da doença,
da violência, da injustiça, da discriminação...
* Qual a nossa atitude para os migrantes: Acolhida, espaço, oportunidade?

Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 22.06.2008
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è Veja abaixo o poema: "Nas asas do sonho".




NAS ASAS DO SONHO

Nas asas do sonho partem os migrantes,
aos milhares e milhões põem-se em marcha;
das terras do desemprego e da fome
rumam em direção às terras do trabalho e do pão;
rompem leis, fronteiras e obstáculos,
fortes e frágeis na luta pela vida.

Mas a cada esquina tropeçam e caem
com os mil rostos e mil ciladas da morte:
morte filha do tráfico e da violência,
que cedo ceifa a flor da juventude;
morte filha do trabalho explorado e escravo,
que cansa antes do amanhecer e encurva antes dos trinta;
morte indefesa e inocente, filha da indiferença,
que se alimenta de vidas não nascidas;
morte em meio às tempestades da travessia,
que no mar ou no deserto frustra o sonho;
morte filha da pobreza e da inanição,
que a conta-gotas mata os desenraizados;
morte da fauna e da flora, grito da terra devastada,
a bio em suas distintas formas ameaçada.

Morte nas ruas, cotidiana, quase “cultural”,
sangue quente na telinha e nas páginas do jornal;
morte do planeta, destruição do meio ambiente,
água e ar, rios e florestas, animais e gente!
morte espetáculo, na cidade e no campo, banal;
espalha silêncio e medo, como coisa natural.

Teimosos, voltam a erguer-se o sonho e o migrante;
nas asas do vento, vencem ambos o caminho;
o sonho se faz raiz, se faz broto e se faz tronco,
se faz árvore, se faz flor e se faz fruto;
no chão de uma nova pátria planta raízes,
que hão de forjar uma cidadania sem fronteiras,
onde acima da raça, língua ou cultura, está a vida.

Pe. Alfredo J. Gonçalves

DOMINGO 12 del Tiempo Ordinario - Ciclo "A" -

Las Lecturas de este Domingo nos hablan de la persecución a la cual puede estar sometido el cristiano que sigue a Cristo y da testimonio de El ... como El nos lo pide. Sin embargo la idea de persecución permanece un poco oculta en estas Lecturas si no leemos los versículos del Evangelio de San Mateo, que aparecen inmediatamente antes de los que nos presenta la Liturgia de hoy.
Asimismo, hemos visto que la Primera Lectura es tomada del Libro del Profeta Jeremías (Jr. 20, 10-13). Y ¿quién fue Jeremías? Fue quizá el Profeta más sufrido, de carácter tímido y manso, que prefería la vida tranquila. Pero Dios lo escogió para llevar su mensaje a un pueblo rebelde. Esto le trajo a Jeremías muchos enfrentamientos, luchas y persecuciones de parte de ese pueblo.
Fijémonos lo que dice el Profeta sobre sí mismo y sobre esta situación: “Yo oía el cuchicheo de la gente que decía: ‘Denunciemos a Jeremías, denunciemos al profeta del terror ... para podernos vengar de él ...Todos los que eran mis amigos espiaban mis pasos, esperaban que tropezara y me cayera”. Sin embargo Jeremías se mantuvo firme ante la llamada del Señor y se sometió a todos los riesgos y a todas las persecuciones, pues confiaba plenamente en Dios.
Así continúa el Profeta: “Pero el Señor, guerrero y poderoso, está a mi lado. Por eso mis perseguidores no podrán conmigo ... El ha salvado la vida de su pobre de la mano de los malvados”.
Este testimonio del Profeta Jeremías sirve de aliento para aquéllos que hemos sido llamados al servicio de Cristo; es decir, todos los bautizados. Cristo tuvo sus discípulos: al comienzo hubo 72. De entre esos 72 escogió a los 12 Apóstoles. ¿Quiénes son sus Apóstoles hoy? El Papa, los Obispos, los Sacerdotes. ¿Y quiénes somos sus discípulos hoy? Pues todos los bautizados, todos los laicos que desean seguir a Cristo.
Y a todos nosotros, Sacerdotes y Laicos, el Señor nos anuncia persecuciones. Nos guste la palabra o no, el hecho es que Cristo no nos ofrece a sus seguidores una vida cómoda y libre de vicisitudes y sufrimientos. Muy por el contrario: las Lecturas de hoy -y muchas otras de la Sagrada Escritura- así nos lo indican.
También el Salmo 68 que hoy hemos rezado se refiere a persecuciones y desprecios: “Por ti he sufrido oprobios, y la vergüenza cubre mi rostro. Extraño soy aun para aquéllos de mi propia sangre, pues me devora el celo de tu casa”. El “celo de tu casa” es el impulso que el verdadero seguidor de Cristo tiene para defender la Palabra de Dios y para llevarla a quien desee escucharla.
Veamos el Evangelio de hoy, pero también los versículos que lo preceden (Mt. 10, 17-23). Por cierto el sub-título que trae la Biblia Latinoamericana es elocuente: “Los testigos de Jesús serán perseguidos”.
El Señor comienza por anunciar persecuciones de parte de los gobernantes. Nos dice que no nos preocupemos cuando se nos juzgue, pues “no van a ser ustedes los que hablarán, sino el Espíritu de su Padre hablará por ustedes”. Luego pasa a anunciar la persecución de que seremos objeto por parte de los nuestros, de nuestra propia familia. Y termina sentenciando: “A causa de mi Nombre, ustedes serán odiados por todos, pero el que se mantenga firme hasta el fin se salvará”.
El Evangelio de hoy nos llama a la valentía y al abandono en Dios cuando la evangelización, la predicación de su mensaje, se haga difícil y riesgosa. No podemos arredrarnos en los momentos de dificultad que puedan presentarse en la tarea de la evangelización. “No tengan miedo”, nos dice el Señor, “porque ustedes valen mucho más que todos los pájaros del mundo”.
La recompensa será grande para los que no temamos y hagamos lo que Cristo hizo y lo que nos pide a todos: “A quien me reconozca delante de los hombres, Yo también lo reconoceré delante de mi Padre que está en los Cielos”. Y el riesgo es grande también: “Al que me niegue delante de los hombres, Yo también lo negaré delante de mi Padre que está en los Cielos”.
Las palabras del Señor son, entonces, muy claras: como seremos objeto de persecución por dar testimonio de Cristo, El nos recomienda -y así comienza el Evangelio de hoy- que no temamos a los hombres, que no tengamos miedo de predicar, de pregonar todo lo que El nos ha enseñado y nos ha pedido.
Nos dice que no nos preocupemos por las persecuciones. Que nos fijemos los pájaros que vuelan: ni uno solo cae a tierra si no lo permite el Padre Celestial. Que en cuanto a nosotros, el Padre nos tiene tan cuidados y vigilados que cada cabello de nuestra cabeza está contado. Nos recuerda que nosotros valemos muchísimo más que todos los pájaros del mundo.
Y nos repite que no temamos a lo que los hombres nos pueden hacer, que éstos sólo pueden matar el cuerpo. Pero que a los que sí hay que tenerles miedo es a los que pueden arrojar al lugar de castigo al alma y al cuerpo. Y ¿quiénes son ésos? No son los hombres. Son los demonios, a ésos sí hay que temer. Hay que estar bien en guardia contra el Demonio y sus secuaces que continuamente nos tientan, buscando apartarnos del Camino y llevarnos a la condenación eterna.
Y ¿cómo nos ponemos en guardia contra éstos? Pues, a través de la oración frecuente y asidua, y recibiendo con frecuencia los Sacramentos, especialmente la Eucaristía y la Confesión.
La Bienaventuranza “Bienaventurados los perseguidos a causa de las justicia, porque de ellos es el Reino de los Cielos” muchas veces se malinterpreta, y se piensa que se refiere a los que se les sigue juicio o están en las cárceles justa o injustamente. Pero se olvida que “justicia” en el contexto bíblico significa “santidad”; no significa justicia como se entiende hoy en día esta palabra.(*)
Así que esta bienaventuranza sobre los perseguidos a causa de tratar de ser santos, de tratar de seguir a Cristo, viene a corroborar este trozo del Evangelio de San Mateo y la suerte del Profeta Jeremías. Fijémonos que esta Bienaventuranza es la última de todas y es la única que el Señor explica con más detalles.
Así continúa el texto -también de San Mateo- “Dichosos ustedes cuando por causa mía los maldigan, los persigan y les levanten toda clase de calumnias. Alégrense y muéstrense contentos, porque será grande la recompensa que recibirán en el Cielo. Pues bien saben que así trataron a los Profetas que hubo antes que ustedes.” (Mt. 5, 10-11).
El Señor, entonces, no nos promete un camino fácil. No nos promete éxitos y triunfos, sino que nos anuncia el mismo camino de El: contradicciones, odios, calumnias, persecuciones, etc. En realidad, si vemos bien el Camino de Cristo, si vemos bien cómo llegó hasta la muerte en cruz, el ser perseguidos por su causa es signo evidente de que vamos por su Camino, no por el nuestro; es signo de que lo vamos siguiendo a El, como El nos lo pidió. “El que quiera seguirme ... tome su cruz y me siga” (Mt. 16, 24).
Sin embargo la bienaventuranza de los perseguidos no significa que no sintamos dolor, que no podamos asustarnos en algún momento. El Señor no nos pide que llamemos gozo a lo que es dolor, ni nos pide que seamos indiferentes hasta el punto de no sufrir nada. El Señor lo que nos dice es que confiemos que el Padre nos cuida directamente ... a tal punto que ¡hasta tiene contado cada cabello de nuestra cabeza!
Esa confianza nos hará fuertes en las luchas y en las persecuciones. Por eso hemos rezado en el Salmo 68: “Quienes buscan a Dios tendrán más ánimo, porque el Señor jamás desoye al pobre”. Es decir el Señor cuida de aquél que no pone su confianza en sí mismo, sino que confía sólo en El. ¡Eso es ser pobre ... pobre de espíritu! Confiando así, sabiéndonos en sus Manos, Dios cambiará el temor en valentía y la debilidad en fortaleza.
San Pablo, en su Carta a los Romanos que hemos leído como Segunda Lectura (Rom. 5, 12-15), nos recuerda que “por el don de un solo hombre, Jesucristo, se ha desbordado sobre todos la abundancia de la vida y la gracia de Dios”.
Ese desbordamiento de la gracia de Dios es el premio seguro que el Señor ofrece a quienes nos entreguemos a El para llevar su Palabra a donde El lo requiera y a quien El disponga -sin importarnos el riesgo que esto pueda significar. Y ese premio que El nos promete es nada menos que el Reino de los Cielos, la Vida Eterna en gloria con El, para siempre.
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¿Qué es la santidad? ¿Cuál es la Voluntad de Dios para mí? El llamado a la santidad y el seguimiento de la Voluntad de Dios son cuestiones íntimamente relacionadas entre sí y son dos asuntos claves para el Cristiano seguir el Camino de Cristo. Pero resultan muchas veces confusas y oscuras estas dos cosas. Por esto, debemos reflexionar siempre en qué consiste ser santos: tratar de ser santos es tratar de seguir la Voluntad de Dios para nuestra vida. Y ¿en qué consiste esto? Consiste en dejar de tener voluntad propia, planes y rumbos propios, criterios y pretensiones propias ... para asumir lo que Dios quiere para mí. Dejarnos hacer santos -dejarnos santificar- es renunciar a nuestra propia voluntad y asumir la Voluntad de Dios como propia. Es dejar que Dios sea Quien haga, Quien muestre su plan, Quien indique rumbos, Quien proponga criterios, etc. Es “flotar” y no “nadar”. Debemos tener siempre presente que la Voluntad de Dios es el plan perfecto de Dios para santificar a cada uno de nosotros.