quinta-feira, 13 de novembro de 2008

«Um homem [...] chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens»

São Jerónimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia, doutor da IgrejaCarta
Este proprietário é, sem dúvida alguma, o próprio Cristo. Após a Sua ressurreição, quando se preparava para regressar vitoriosamente para junto do Pai, chamou os apóstolos e confiou-lhes a doutrina do Evangelho, dando a um mais, a outro menos, nunca demais nem de menos, mas de acordo com as forças daqueles que a recebiam. Da mesma maneira, o apóstolo Paulo afirma que alimentou de leite aqueles que não estavam capazes de tomar alimento sólido (1 Cor 3, 2). [...]Cinco, dois, um talento – são, quer as diferentes graças concedidas a cada um, quer, no primeiro caso, os cinco sentidos, no segundo, a inteligência da fé e das obras, no terceiro, a razão, que nos distingue das restantes criaturas. «O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco». Ou seja, a partir dos sentidos físicos e materiais que tinha recebido, fez aumentar o seu conhecimento das coisas celestes; a sua inteligência elevou-se das criaturas até ao Criador, do corpóreo ao incorpóreo, do visível ao invisível, do passageiro ao eterno. «O que recebera dois talentos ganhou outros dois». Também este, na medida das suas forças, duplicou na escola do Evangelho aquilo que tinha recebido na escola da Lei. Ou podemos dizer que compreendeu que a inteligência da fé e das obras da vida presente conduz à felicidade futura.«Mas o que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor». Preso às obras cá de baixo, aos prazeres deste mundo, o servo mau esqueceu os mandamentos de Deus. Notemos que outro evangelista afirma que ele enrolou o talento num pano; podemos entender por isso que suprimiu o vigor dos ensinamentos do mestre com uma vida de moleza e de prazeres. [...]O senhor acolhe os dois primeiros servos – aquele que, dos cinco talentos, tinha feito dez, e aquele que, dos dois talentos, tinha feito quatro – com o mesmo elogio: «Vem tomar parte na alegria do teu senhor», recebe aquilo que «nem o olho viu, bem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem» (1 Cor 2, 9). Que recompensa maior se pode dar a um servo fiel?

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