quinta-feira, 5 de julho de 2007

14° Domingo do Tempo Comum - “Paz a esta casa!” (Lc 10,5)

Estamos vivendo dias especiais em nosso país. Dias em que temos a possibilidade de testemunhar o sonho de paz não somente para nós, mas para o mundo inteiro. É significativo que, ao lado de milhares de pessoas que através do esporte querem anunciar a paz possível, outras tantas milhares sofram com a violência dos conflitos nos morros e nas ruas do Rio de Janeiro.
De fato, a cidade do Rio nestes dias precisa do anúncio missionário: “A paz esteja nesta casa!” pois vive o triste contraste do sonho da paz e da realidade da violência.
Nesse sentido, o Evangelho deste domingo nos ilumina e nos desafia a não nos deter em ocasiões privilegiadas como o PAN 2007 para sermos missionários da paz, mas a assumir essa missão como vocação de discípulos de Jesus que nós somos.
Jesus designa “setenta e dois discípulos”, ou seja, muitos, não somente os “ordenados doze”... Ele quer contar com muitos discípulos pois a missão que lhes confia é muito exigente e ampla... não pode se restringir apenas aos doze...
Ele os envia “dois a dois”, não envia sozinhos para que não sejam arrogantes, autosuficientes e isolados da comunidade... O envio de missionários construtores de paz é um envio de comunidades construtoras de paz, é um envio a “ir à frente de Jesus aos lugares onde Ele próprio deve ir”.
Ao enviá-los Jesus desabafa: “A colheita é grande, mas os operários são poucos”. Um desabafo tão atual... Somos testemunhas de quantas pessoas estão se candidatando para serem voluntárias no PAN 2007, mas se ousamos perguntar quantos se candidatam para serem missionários da paz, talvez cheguemos à mesma conclusão: é uma grande missão para poucos operários!
Juntamente com o desabafo, Jesus dá dicas aos seus discípulos missionários:
v coragem: “Eu vos envio como cordeiros entre lobos!”;
v simplicidade e austeridade: “Não leveis nem bolsa, nem alforje, nem sandálias...;
v urgência: “a ninguém saudeis pelo caminho...”;
v certeza: “Em qualquer casa onde entrardes dizei: “PAZ A ESTA CASA!”. A certeza que anima o discípulo missionário é que ele é um portador de paz...

O que significa ser um portador de paz num contexto de violência e de guerra? Provavelmente é assumir uma desafiadora missão: a missão de não responder violência com violência; a missão de denunciar os agentes da violência; a missão de solidarizar-se com as vítimas da violência; a missão de tomar posição sem medo de dar a vida pela paz...
Nos últimos meses, silenciosamente, muitas pessoas no Rio têm assumido esta missão com muita ousadia e coragem... Elas não têm a pretensão de se confrontar com as forças nacionais de segurança nem com as forças locais do tráfico, mas ousam, silenciosamente plantar rosas vermelhas em memória dos mártires da violência, enterrar cruzes na praia de copacabana e nestes últimos dias colocarem-se estendidos sobre a grama com camisas vermelhas denunciando a onda de desrespeito à vida que somos testemunhas em nosso estado e particularmente na cidade do Rio..
Que impacto tem estas ações? Que impacto tiveram as ações dos discípulos missionários de Jesus em sua realidade? Provavelmente um pequeno impacto... o impacto que tem o nascimento de uma plantinha no contexto de destruição da natureza que nós testemunhamos.... ou seja... aparentemente são ações insignificantes... Os mil e tantos soldados da força nacional e os outros tantos das forças do narco-tráfico certamente fazem muito mais barulho, assim como as queimadas no Amazonas... No entanto, estas pequenas ações são, não somente importantes, mas necessárias: elas preparam o caminho para acolhermos Jesus de Nazaré neste lugar onde Ele quer chegar com seu anúncio de paz.
A celebração deste domingo é uma celebração profética. Ela protagoniza a profecia da esperança. Já na primeira leitura, ouvimos o anúncio: “Alegrai-vos com Jerusalém! Vibrai de alegria com ela... Como a mãe consola o filho, virei em pessoa para vos consolar... Vós o vereis e vosso coração ficará cheio de alegria; como uma planta que brota de novo, assim acontecerá com vossos ossos”. Que belo anúncio de esperança! Que palavra de coragem e ânimo o Senhor nos reserva neste domingo...
Qual será o motivo de alegria para nós nestes dias? Certamente não será simplesmente a realização do PAN 2007... Precisamos de mais para termos esperança e alegria! Precisamos crescer na consciência que podemos fazer mais; que hoje, os setenta e dois discípulos e missionários de Jesus somos nós... pequenos, frágeis, quase nos sentindo impotentes diante da força avassaladora da violência, mas importantes e até necessários para testemunhar que a paz ainda pode vencer a guerra; que o amor ainda pode falar mais alto que a violência; que a esperança ainda pode vencer o medo... E acima de tudo que a vida continua vencendo a morte, ainda que sejamos poucos, e que a messe seja grande... que aparentemente a morte pareça dominar com sua força tantas vezes perversa...
Que possamos sobreviver ao clima de contrastes que vivemos nestes dias no Rio de Janeiro para contarmos aos irmãos e irmãs as maravilhas que Deus realizou por nós pois “Grandes são as obras do Senhor”.
Comungarmos com Cristo Palavra viva de Deus e Pão que dá vida... é certamente força e experiência de novamente nos sentirmos enviados em missão... Muito mais do que eventos de alguns dias como o PAN 2007, o Evangelho precisa de voluntários que não estejam dispostos somente a dar algum tempo de sua vida, mas a vida toda neste tempo... para anunciarem que o tempo de Deus chegou... e a paz depende de cada um de nós... depende de mim, depende de você!


Ir. Luzia Ribeiro Furtado

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