quinta-feira, 6 de setembro de 2007

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Investir no Reino de Deus

No mundo de hoje, as pessoas se preocupam muito com o futuro de suas vidas. Há planos de saúde, seguros de vida e investimentos financeiros. Pode-se investir em imóveis, bolsas de valores, fundos de renda fixa, cadernetas de poupança e até em ouro. Sim, existe investimento em ouro. Tudo para formar um bom patrimônio e ter uma vida tranqüila e segura. Mas será que isso é suficiente para se ter uma vida feliz?
Jesus propõe outro tipo de investimento. Não tem promessas de lucro fácil nem garantias de futuro tranqüilo. Ao contrário, sua proposta tem exigências rígidas e conseqüências pesadas. Ele afirma, no final do Evangelho de hoje: “Qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo”.
Em qual projeto vale a pena investir? Que patrimônio você quer formar para o seu futuro? Quais as prioridades para sua vida?
A proposta de Jesus exige bem mais do que aplicações financeiras. Vai muito além de um plano de saúde. Supera de longe um seguro de vida. Trata-se de um investimento total, da pessoa inteira, num projeto diferente, que ele chama de Reino de Deus. Para entrar nessa proposta, é preciso seguir os seus passos, isto é, ser discípulo dele.
Jesus aponta os riscos e benefícios, ou seja, explica as condições desse seguimento. Começa com uma frase chocante: “Odiar” a própria família. Apesar de violenta, a tradução do verbo é esta mesmo. Trata-se de uma maneira exagerada da língua aramaica, que Jesus falava, como das demais línguas semíticas, para dizer “não preferir”. Jesus quer deixar claro que a sua proposta é a mais valiosa que existe, tão importante, que vale mais do que os próprios entes queridos, pai e mãe, mulher, filhos, irmãs, irmãos e mais, vale mais até que a própria vida. E para não deixar dúvidas, arremata: “Quem não carrega sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu discípulo”. Proposta dura demais? Você está convocado a experimentá-la. É possível ir até o fim? Multidões antes de você já conseguiram. E tem seguranças e vantagens? Garante um tesouro diferente, a vida plena e verdadeira.
Como se trata de um investimento total, da própria vida, Jesus propõe planejar bem, para não desistir pelo caminho. Ilustra seu ensinamento com duas parábolas, a do construtor da torre e a do rei guerreiro. Antes de começar a construção, o proprietário calcula tudo, para não deixar a obra pela metade. Igualmente o rei, ao partir para a guerra, compara o número de seus soldados com os do adversário, para não sair derrotado. Assim o discípulo de Jesus, não pode parecer um construtor falido nem um rei derrotado. Seria a situação de quem começou a seguir Jesus, mas desistiu pelo caminho. Ora, o projeto de Deus não pode ficar pela metade.
Esse projeto parece loucura? Mas é pura sabedoria! Claro, trata-se da verdadeira sabedoria, aquela que permite estabelecer prioridades e escolher a melhor forma de viver. Para viver de acordo com a proposta de Jesus, por sinal, é preciso muita sabedoria e discernimento, um dom concedido pelo próprio Deus.
Assim pergunta a Deus o sábio na primeira leitura: “Quem conhecerá tua vontade, se não lhe deste Sabedoria e não enviaste do alto teu espírito santo?”. A sabedoria do espírito santo de Deus é que ajuda o ser humano a escolher o melhor caminho para sua vida. De fato, quantas escolhas erradas fazemos em nossa vida, pois somos falíveis! O sábio reconhece isso. Põe na boca do rei Salomão as palavras de sabedoria da primeira leitura de hoje. O texto conclui a longa oração de Salomão para pedir a sabedoria. Salomão foi elogiado porque não pediu vida longa, nem riqueza, nem vitória sobre os inimigos. Pediu sabedoria. E por isso mesmo recebeu tudo.
A escolha de vida que a pessoa faz tem conseqüências na sociedade em que ela vive. A segunda leitura ilustra bem essa verdade. Paulo estava na prisão, por causa de sua opção pelo Evangelho de Jesus Cristo. O escravo Onésimo foge do seu patrão e vai encontrar Paulo. O apóstolo batiza Onésimo, que se torna assim seu filho espiritual. Mas em coerência com sua escolha de vida, Paulo remete Onésimo de volta com um bilhete ao seu antigo patrão Filêmon. Não usa autoridade nem linguagem impositiva, mas, com motivação no próprio batismo cristão, procura persuadir Filêmon a receber Onésimo noutra condição social, “não mais como escravo, mas bem melhor do que como escravo, como irmão amado”. Como poderia alguém manter um irmão escravo? Paulo, com isso, lança um desafio para os nossos dias, criar novos laços de família e novas relações sociais. Qualquer forma de escravidão e dominação tem de ser superada. Tudo isso é conseqüência de um investimento maior, não em aplicações financeiras, mas no próprio reino de Deus.

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