quinta-feira, 27 de setembro de 2007

26° Domingo do Tempo Comum

O rico e o Lázaro
Enquanto a caravana de Jesus e seus discípulos segue o caminho para a Jerusalém, os fariseus e mestres da lei andam pela mesma trilha, observando tudo e contestando a conduta de Jesus. O Filho de Deus, concentrado em sua missão, continua alertando sobre os riscos e as exigências do ser discípulo. Em meio às riquezas, corre-se o perigo da insensibilidade diante dos sofrimentos dos pobres, e a perda do rumo que conduz à vida plena.A parábola do rico e do indigente Lázaro, no primeiro momento, mostra o rico opulão banqueteando-se e esbanjando os bens adquiridos à custa da miséria dos pobres personificados no indigente Lázaro, a quem não lhe é permitido sequer alimentar-se das migalhas que caem da farta mesa (Lc 16,20-21). A morte nivela ambos, mas o destino é diferente. Lázaro, em vida ferido no corpo e na dignidade, é levado pelos anjos junto de Abraão (Lc 16,22); e o rico, que viveu sem se importar com a eternidade, mergulha nos tormentos do inferno (Lc 16,23). A realidade se inverte. Aquele que não dera ouvidos às súplicas do pobre Lázaro agora clama para que Abraão diga a Lázaro que lhe suavize seus sofrimentos (Lc 16,24) e alerte, em tempo, seus irmãos sobre o modo de viver, para que não caiam na mesma desgraça (Lc 16,30). Todavia, para quem já tem Moisés e os Profetas, e mesmo assim é surdo à palavra deles e insensível aos pobres que o cercam, nem mesmo um fato miraculoso o fará tomar consciência da necessidade de mudar seu modo de viver (Lc 16,29-30). A história do rico e do pobre Lázaro pode ser vista gratuita e diariamente nos palcos da vida social. Esse relato explicita a pedagogia de Deus em favor dos menos favorecidos da história e se constitui em uma severa advertência, para quem possui bens, a respeito do uso correto da riqueza.A palavra de Jesus acena para o modo de agir no tempo presente, em meio aos bens materiais, a fim de que não comprometa a realidade futura. Pois é aqui na terra que se decide o destino eterno. Não adianta esperar para depois. Após a morte, a situação se torna irreversível. A parábola proclamada - do rico e do pobre Lázaro -, além de convidar ao discernimento sobre a coerência de vida que garanta o futuro, questiona os discípulos a respeito dos valores em que eles depositam sua confiança. Lázaro, vivendo a situação de indigente, suportou a situação de penúria e encontrou a compaixão de Deus. Em contrapartida, o rico, que em vida recebeu tudo e se banqueteava lautamente, não teve a mesma sorte. Foi excluído do Reino não porque roubou, praticou injustiças ou simplesmente por ser rico, mas por ter passado a vida centrado em sua riqueza, em seu bem-estar, a ponto de tornar-se incapaz de pensar em Deus e de demonstrar insensibilidade para com o pobre morrendo de fome à porta de sua casa. Seus bens podiam ter sido sinais de compaixão; no entanto, a atitude gananciosa do rico criou um abismo intransponível entre ele e o irmão indigente. Embora ambos estivessem fisicamente próximos, seu coração estava a quilômetros de distância! O rico está tão alienado em sua riqueza, que é incapaz de fazer um pequeno gesto de solidariedade. O discípulo de Jesus deve ser alguém sábio, que deposita sua confiança em algo sólido para não comparecer à presença do Senhor de mãos vazias, a exemplo do rico opulento. A escuta atenta da Palavra é o meio privilegiado que ilumina o discernimento sobre a vontade de Deus e a fidelidade ao seu projeto. Quem se distancia da Palavra de Deus corre o perigo de se tornar insensível e incapaz de fazer gestos gratuitos de solidariedade. Conseqüentemente, cava um abismo entre ele, Deus e os irmãos. Escutar Moisés, os Profetas e o Evangelho favorece o desapego e abre os olhos às necessidades do próximo. Que o Dia da Bíblia, que hoje celebramos, nos incentive, mediante o conhecimento das Sagradas Escrituras e sua vivência, a ter o coração aberto e generoso para com todos os nossos irmãos!

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