quinta-feira, 18 de outubro de 2007

29° Domingo do Tempo Comum - O juiz iniquo e a viúva

O juiz iníquo e a viúva
Na caminhada de Jesus rumo a Jerusalém, a parábola da viúva e do juiz iníquo introduz um novo elemento: a oração. O protagonista é o juiz que não teme a Deus (Lc 18,3) e não se importava com as pessoas. A protagonista oposta é a viúva (Lc 18,3), objeto de atenção especial por sua condição desprotegida e fraca na sociedade (cf. Ex 22,21-23). Como tal, ficava exposta aos abusos legais e judiciais pelo fato de não poder pagar nem subornar. A exigência que a viúva faz ao juiz é expressa no pedido: "Faça-me justiça contra o meu adversário" (Lc 18,3). Tratava-se, possivelmente, de uma questão de herança ou de pagamento de uma dívida. Pequenos casos que o juiz, com boa vontade, podia resolver. Ele protelava a sentença favorável à viúva, talvez por comodismo ou pela importância social do devedor com quem o magistrado não queria se indispor. A justiça, nos homens da lei, desde longa data, está comprometida. O profeta Amós gritara contra essa situação (cf. Am 8,4-8). Miquéias acusara os homens da lei e as autoridades por atuarem e decidirem sempre em favor de seus interesses (Lc 3,1-11). Agindo assim, eles se perpetuam no poder e conseguem sustentar sua influência entre as pessoas (cf. Lc 16,1-13). Os pobres (representados pela viúva), por não possuírem dinheiro, normalmente não têm poder de barganha, de influência e menos ainda de decisão. Na perspectiva do juiz iníquo, os tribunais da justiça acabam se transformando em cenários férteis de injustiça e lugares onde quem possui privilégios recebe mais, e quem tem poucos está espoliado até de seus direitos. A viúva tinha tudo para desistir, mas insiste e persiste em que seu processo seja julgado. Ela não tinha dinheiro para comprar, tanto menos para comprometer a justiça. Porém, o homem da lei vê-se obrigado a pronunciar a sentença para não continuar sendo molestado pela persistência da mulher (Lc 18,5). A parábola conclui-se revelando a eficácia da oração: se o juiz iníquo se deixou dobrar aos pedidos insistentes da viúva, o que dizer de Deus, o justo juiz, ao ouvir as súplicas de seus filhos? Esta parábola é muito atual. A viúva persistente é o símbolo das pessoas desprotegidas. Teoricamente protegidas pelas leis, mas na prática enfrentam toda espécie de dissabores. Dificilmente o pequeno e o fraco (as viúvas de hoje) têm vez na sociedade. Quem não possui cartão de crédito nem dispõe de boas relações conhece a triste realidade das intermináveis filas e o cansaço de horas de espera. Aos pobres, não resta alternativa senão serem persistentes. A perseverança é uma das únicas portas existentes para que os pequenos da sociedade sejam ouvidos e atendidos. Diante da injustiça dos homens, cabem aos pobres a perseverança e a confiança em Deus. Em meio às dificuldades, a tentação é de lançar mão dos mesmos métodos dos ricos e dos poderosos. Mas a justiça definitiva cabe a Deus. O fato de alguém não ser atendido questiona a intensidade da fé e o conteúdo da oração. O que pedimos a Deus? Será que o que solicitamos corresponde a seus desígnios e ao nosso bem espiritual? Na prática, porém, a vinda do Reino e sua implantação demoram. Deus tarda em fazer justiça a seus eleitos. O Senhor vem em socorro de quem está a caminho, alimentando suas forças e coroando de êxito seus esforços na implantação do Reino de justiça e de paz. A oração perseverante ajudará os discípulos e missionários a fazer do continente latino-americano modelo de justiça e de paz!

Nenhum comentário: