quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Batismo e Missão: “Este é o meu Filho amado...”

Com solenidade da festa do Batismo do Senhor encerramos liturgicamente o Tempo de Natal e iniciamos um novo Tempo litúrgico lembrando o compromisso que se inicia com o nosso batismo, algo que nos é bem frisado na letra de um antigo canto entoado em nossas comunidades eclesiais: “Pelo batismo recebi uma missão vou trabalhar para o reino do Senhor, vou anunciar o Evangelho para os pobres, vou ser profeta, sacerdote, rei e pastor”. Canto este enraizado na proposta do Concílio Vaticano II que afirma o compromisso batismal de todo o povo de Deus. Ser batizado é assumir em sua própria vida a proposta de Jesus.
Os capítulos 3 e 4 de Mateus são a parte narrativa do chamado “primeiro livrinho (caps. 3-7)” que descreve a chegada do Reino de Deus através da missão de Jesus. O episodio de hoje destaca o diálogo entre João Batista e Jesus (vv. 14-15) e a manifestação de Jesus como Filho de Deus (vv. 16-17). O centro está nas palavras de Jesus: “Devemos cumprir toda a justiça” (v.15). Ele, portanto, é aquele que vem trazer para dentro de nossa sociedade e história a justiça que constrói o Reino. Jesus ao deixar-se batizar por João Batista se solidariza com toda criatura humana. Submete-se ao batismo de João como forma de cumprir a vontade (=justiça) do Pai, de assumir o projeto do Pai, que é, justamente, o de solidarizar-se com a humanidade que sofre. Por outro lado, sua atitude nos indica que não podemos fazer a missão sem o reconhecimento do Pai. O projeto é Deus. Somente após a confirmação do Espírito de Deus sobre Ele é que Jesus declara e assume para o que veio. “Então o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo pousar sobre ele. E do céu veio uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado” (Mt 3,16-17).
A plena revelação-comunicação de Deus se concretiza no ato de Jesus assumir o projeto do Pai. O Espírito, que desce sobre Jesus e faz dele a presença permanente de Deus na terra, constitui a origem divina da sua missão e pessoa. O simbolismo da pomba seria alusão ao princípio da criação: “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,2). A criação em Jesus torna-se completa e a voz do alto é como que o eco de Is 42,1 que fala do Servo de Javé. Mateus quer assim opor-se a idéia de um Messias triunfalista e mostrar que a missão de Jesus se caracterizará pela solidariedade com os marginalizados.
Como ungido do Pai é que Jesus assume sua missão, o que nos é confirmado pela primeira leitura tirada do livro do profeta Isaías “Eis o meu eleito – nele se compraz minha alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações” (Is 42, 1). E seu julgamento terá como base à justiça. “Eu, o Senhor, te chamei para justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (vv.6-7). O servo não emprega os critérios nem os meios que os poderosos utilizam para obtê-la: “Não gritará, não falará alto...”(vv.2-3). Não é massacrando o povo, nem o frustrando, nem o enganando com propaganda ilusória e falsa que o servo consolidará o projeto de Deus, mas animando e mantendo viva a esperança.
Assim, também, deve ser nossa ação missionária (convocada com tanta ênfase pela V Conferência de Aparecida) baseada na justiça, buscando não fazer acepção de pessoas ou nação como nos convoca a segunda leitura retirada dos Atos dos apóstolos “Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença”. Ela está baseada no fazer o bem sem olhar a quem, como diz um velho ditado popular. Que assim seja, caríssimos irmãos e irmãs neste novo ano de 2008. Que nossa ação seja uma corrente do bem espalhada por esse Brasil a fora, desejosos de ser sinal de Deus para um mundo tão conturbado e sedento de paz.
Portanto, celebrar a festa do batismo do Senhor é ter a certeza de que não somos regidos pelo mercado financeiro, mas pela ação do Espírito de Deus que nos move para buscar saídas e alternativas que inclua, principalmente os mais pobres e desvalidos de nosso país. Somos convocados/as a não sermos apenas ingênuos diante da vida, nos conformando somente com praticas piedosas e religiosas, mas sobretudo, assumir a missão de Jesus, confirmada pelo Pai e pelo Espírito Santo: libertar os pobres, devolver a vista aos cegos, fazer os coxos andarem, libertar os cativos, fazer com que a justiça e o direito jorrem generosos para todos. Se assim vivermos nosso Batismo, estaremos realmente sendo servidores da missão de Cristo. E ouviremos do Pai a consoladora confirmação de que somos seus filhos/as muito amados/as. E sentiremos o Espírito movendo-nos e dando-nos força para realizar proezas que pareciam impossíveis, mas que serão colocadas ao nosso alcance porque as realizaremos juntamente com Jesus.

Tânia Regina da Silva

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