sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

1° Domingo da Quaresma

Como Jesus somos tentados a todo instante

Irmãos e irmãs celebramos hoje o primeiro domingo da quaresma. Neste tempo toda a Igreja entra num retiro de quarenta dias em preparação à Páscoa, recordando os quarenta dias que Jesus ficou no deserto orando e jejuando(cf. Mt 4, 1s), os quarenta dias que Moisés jejuou (cf. Ex 34,28) e os quarenta anos que o povo de Israel passou no deserto (cf. Dt 8,2). Neste retiro somos guiados pelo próprio Espírito de Deus e convidados a reavivar em nosso coração a disposição em seguir Jesus e a colaborar na construção do seu reinado.
Na liturgia deste domingo nos deparamos com duas cenas já bem conhecidas. No evangelho temos as tentações de Cristo e na primeira leitura a tentação de Adão e Eva. Ambos os textos mostram o ser humano diante da proposta de não assumir a vontade de Deus e a se submeter a um mundo de ilusões.
No texto de Gênesis vemos que Eva e Adão caem na tentação. Eles não são apenas dois personagens bíblicos, mas representam o povo de Deus que, embora tendo a companhia e amizade de Deus que lhe mostra o caminho a seguir para sua própria felicidade, não dá atenção a esta voz e tenta arbitrar por si próprio o que é bom e o que é mal. Esta postura do ser humano de querer ser um deus não o leva a sua realização. Ele sai de uma situação de paz e harmonia simbolizada pelo jardim do Éden, e percebe sua nudez, ou seja, sua incapacidade de dialogar com Deus e com os seus semelhantes gerando assim sofrimento e morte.
No evangelho Jesus vence as tentações. E não o faz somente por ser Deus, mas antes, por ser verdadeiramente humano. Tendo recebido o Espírito de Deus no batismo e consciente do projeto salvífico do Pai Jesus parte em missão. No caminho o Espírito o impulsiona ao deserto, que na Bíblia significa ao mesmo tempo o lugar da intimidade com Deus e lugar das dificuldades e necessidades. Jesus como qualquer um de nós, batizados, não está isento da tentação de voltar atrás, de abandonar o caminho, de “chutar o balde...”. Aquele ditado popular “quanto mais rezo mais assombração me aparece” não está também ausente da vida de Jesus. Sua comunhão com Deus não impede de experimentar as dificuldades e tentações do dia a dia, mas o impede que caia nelas. O relato das tentações não quer apenas dizer respeito a um episódio pontual da vida de Jesus mas quer mostrar que toda a sua trajetória missionária, como a de todos os cristãos é marcada pela possibilidade de voltar atrás e não seguir os apelos de Deus. Jesus vence a tentação porque se deixa guiar pela Palavra de Deus. Esta Palavra arde no coração de Jesus e o fortalece para continuar o caminho proposto pelo Pai.
Como Jesus somos tentados a todo instante a nos desviarmos do projeto de Deus e a trilharmos o nosso projeto pessoal, segundo os nossos interesses. E não poucas vezes cedemos a tentação. Nos jornais vemos a todo instante alguns dos pecados que se tornaram públicos como os escândalos com desvio de verbas de prefeituras, mensalões, devastação da Amazônia... Estes manifestam a ganância do ser humano e sua pouca preocupação com o destino de seu próximo. A estes se juntam nossos pecados que cometemos em nosso cotidiano e que na maioria das vezes não se tornam públicos.
A Palavra de Deus de hoje não vem nos condenar pelos nossos pecados, mas quer nos alertar para o triste fim que eles nos levam: a desarmonia conosco mesmos, com a natureza, com os outros e com Deus, ou seja, a morte. Pelo exemplo de Jesus e pela força que vem dele somos convidados a abandonarmos uma situação de pecado e abraçarmos a condição de filhos e filhas de Deus, daqueles que querem cada vez mais ouvir a vontade de Deus e deixar ser conduzidos por ela. A força que vem de Cristo e nos é dada vem a nós de forma muito mais intensa do que o pecado que cometemos. Esta força nos purifica dos nossos pecados e nos impulsiona a vivermos a comunhão plena com Deus que nos dá ânimo, alegria e espírito decidido. O deixar-se guiar por esta força, pelo Espírito de Cristo, nos coloca na comunhão, na intimidade com o Pai que por sua misericórdia e não por merecimento nosso não nos deixa cair em tentação, mas nos livra do mal.
Peçamos, portanto nesta celebração, assim como já fizemos no início a graça de crescermos no amor e no conhecimento de Jesus Cristo, de sermos conduzidos pela força do seu Espírito que possamos corresponder com nossas vidas este grande dom que nos é dado gratuitamente.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.


Bibliografia
Missal Dominical. Missal da Assembléia Cristã. São Paulo: Paulus, 1995.
SCHÖKEL, Luís Alonso. Bíblia do peregrino. São Paulo: Paulus, 2002.
BARBAGLIO,G; FABRIS, R; MAGGIONI, B. Os Evangelhos (I). São Paulo: Loyola, 1990.
STORNIOLO, Ivo. Como ler o evangelho de Mateus: O caminho da justiça. São Paulo: Paulus, 6 ed. 2003.

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