sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Assunção de Maria

A solenidade que celebramos hoje vê lado a lado o triunfo do amor incondicional de Maria e a delicada e fiel resposta de Deus. É o apogeu de um diálogo começado e nunca encerrado entre a humanidade humilde, esperançosa, “serva” e a justiça sem limites de Deus que realiza toda expectativa, com doçura e força. Um diálogo que vê a criatura humana alcançar a sua mais autêntica vocação: transcender a si mesma projetada ao infinito.
È o desfecho do mais autentico milagre que acontece quando homem e Deus se encontram de verdade, sem opor limites um ao outro. É a solenidade da humanidade nova, das pessoas que sabem transpor a barreira se suas convicções particulares, de suas experiências privadas para se lançarem confiantes na credibilidade de uma palavra dada. Maria via realizada em si a benção de Isabel: « feliz a que acreditou na realização do que lhe foi dito da parte do Senhor!» naquele dia em que partilhou, primeira dentre a humanidade, o destino de Jesus, Senhor da vida.
É nesta profunda associação entre Maria e Deus, feito seu filho, que desde o início a Igreja acreditou mesmo se ao longo de séculos não sentiu a necessidade de a proclamar oficialmente. Sim, como Maria com exclusividade e totalidade aderiu a Deus servindo e amando o seu Filho, assim também Deus, no seu Filho, aderiu sem restrições a Maria dando a Ela o que de mais precioso tinha para dar a uma pessoa humana. È o mais alto intercâmbio de amor do qual a história da fé possa lembrar.
È isto que os cristãos acreditam. Maria é a garantia visível de que o que Deus diz é possível! ...e é possível para todo homem.
Contrariamente a qualquer mito que endeusa o homem, em Maria vemos por primeira realizado o resultado da verdadeira dinâmica que “diviniza” o homem. È a dinâmica do diálogo, do intercâmbio total. Por esta “lei”, toda pessoa que trilhar dentro de suas condições, mas com totalidade, o mesmo caminho de Maria, como Ela será associada ao Senhor.
Se o “anticristo” «ele mesmo sentando no santuário de Deus, aponta a si mesmo como Deus» . (2Tes. 2,3), Maria sempre apontou Deus como Deus; a Ele submeteu toda decisão de sua vida, a Ele ofereceu suas primícias, com irrevogabilidade, compreendendo ou não, mas sustentada pela fidelidade da palavra, dada e recebida.
È, assim o princípio e modelo da nova humanidade que cresce e se desenvolve orientada pela palavra, dada e recebida, no diálogo que acolhe. Era isto que Deus queria que acontecesse com cada um de nós; mas nem sempre isto foi possível, nem sempre permitimos, ainda hoje, que as coisas se realizem segundo esta lógica que Deus continua propondo. E assim, infelizmente, muitas e muitas vezes tocamos com mão o peso do mal, do sofrimento inútil e da morte.
E se experimentássemos por um momento dar credibilidade a Deus? Principalmente quando tudo parece levar-nos ao contrário. E se experimentássemos ver o mundo com o olhar de Maria, olhar que não enxerga mas entrevê, intui e segue o apelo do coração ? Olhar capaz de dar apoio quando, primeira, precisaria de apoio ?
Maria partilhou o desejo de Deus, fez do desejo de Deus o seu desejo, sua vida; como resposta Deus realizou por primeiro em Maria o desejo do Filho que no final de sua vida Lhe pediu: «Pai, aqueles que me deste, quero que eles também estejam onde eu estiver...» (Jo.17, 24). E assim foi: Deus havia dado Maria, uma moça forte e corajosa da Galiléia a Jesus; uma vez glorificado, fez dela uma “mulher vestida de sol” participante da glória do próprio Filho.
Mãe e Filho, unidos uma vez pela adesão à palavra, dada e recebida, unidos para sempre pela força desta mesma palavra. Eles, que haviam depositado na realização do projeto do Pai toda sua vida, fizeram do serviço a esta vontade a motivação de sua existência. A seu amor incondicional o Pai responde, como sempre faz.
«Eis a serva do Senhor» continua dizendo a cada um de nós Aquela que humildemente pôs a sua vida à disposição de Deus, Aquela que deseja que em cada um de nós, confiados eternamente a Ela no último suspiro de Jesus, se realize a firme certeza do Filho: «onde eu estiver, estará também meu servidor. Se alguém me servir, o Pai o honrará» (Jo, 12,26). Porque estar à disposição é a resposta ainda hoje desafiadora à arrogância do orgulho. È a lógica que “confunde os fortes” que «derruba os poderosos de seus tronos».
Que esta solenidade tão rica, memória e antecipação do grande dom que Deus reserva para os que sabem confiar, alegre a nossa vida e nos projete, com entusiasmo, no mundo, portadores daquela realidade que supera o mundo.

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