quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Operários da vinha

O trecho do Evangelho deste domingo situa-se entre as instruções de Jesus aos discípulos sobre a gratuidade do Reino: todos têm o mesmo direito de tomar parte da bondade e da misericórdia divinas. O Mestre revela que o Reino é dom gratuito por uma parábola, na qual o dono da vinha contratou trabalhadores, em diferentes horas do dia, de modo que alguns trabalharam mais que outros e, no fim, todos receberam o mesmo salário. A lógica da parábola de Jesus contraria a prática da sociedade que produz pessoas que vivem na praça mendigando trabalho para o próprio sustento. Quebra também a lógica do trabalho gerador de desigualdades, quando devia ser um fator de igualdade, dignidade e satisfação para todos. O proprietário da vinha não faz seleção nem pede referências. Contrata, em diferentes horários do dia, quem precisa de trabalho para garantir seu sustento. Na perspectiva do Reino, toda hora é hora para alguém ser convidado entre os trabalhadores da vinha. A vinha simboliza o antigo Israel e agora, o novo povo de Deus, a humanidade inteira. A parábola é uma ilustração do princípio exposto em Mt 19,30: "Muitos que agora são os primeiros serão os últimos; e muitos que agora são os últimos serão os primeiros". A quantidade ou a qualidade do trabalho ou do serviço, o tempo, as diversas funções, o maior ou o menor rendimento não geram privilégios nem são fontes de mérito, uma vez que tudo deve ser resposta ao chamado gratuito. O dono da vinha não faz cálculos econômicos segundo as regras de mercado. Orienta-se por outros critérios; considera a necessidade de cada trabalhador para viver ou para ser uma pessoa melhor. Jesus sublinha a atitude dos trabalhadores da primeira hora: "Pensavam que iam receber mais... ao receber o pagamento, começaram a resmungar contra o dono da vinha". É a imagem daqueles que, em muitas comunidades, aparecem como bem comportados, fazendo tudo certo, julgando-se os melhores. Por outro lado, quem não foi um dia desafiado por afirmações como: "Só vence na vida quem se esforçar" ou "Merece mais quem mais se esforçou"! Jesus não se refere à qualidade ou ao sucesso profissional. Ele apresenta a vinha como imagem do Reino dos Céus. Todos deveriam exultar de felicidade, por ser o Reino o lugar onde o Pai, em sua imensa bondade, acolhe os filhos e filhas de todas as horas. O novo povo de Deus deve se alegrar com o amor do Pai, que reúne em seu Reino homens e mulheres de todas as etnias e línguas, povos e nações. Ele tem uma lógica diferente da sociedade de mercado. Em sua bondade, sempre encontra um jeito de nos dar mais que merecemos.

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