sexta-feira, 15 de junho de 2007

11° Domingo (A pecadora no festim)

A cena do Evangelho de hoje retrata a ceia da cortesia, da misericórdia e do perdão. Lucas encerra uma seção de ensinamentos referentes à acolhida, à fé e às obras de misericórdia em uma dura crítica aos conservadores, nomeadamente os fariseus, e descortina o horizonte do discipulado. O evangelista tece uma mordaz crítica à Lei que impede a prática da misericórdia e da graça.Em cena estão três personagens: o fariseu, a mulher e Jesus. Os personagens são muito bem caracterizados. O fariseu chama-se Simão, é honrado, não reconhece Jesus como Messias nem lhe oferece água para as habituais purificações dos hóspedes. Tenta ser cortês, mas abusa na arrogância. A mulher, como toda prostituta, não tem nome. Reconhece Jesus, demonstra humildade, reconhece sua situação e busca a mudança. Pede compaixão, alcança o perdão e a salvação. Apesar de não concordar com a postura farisaica, Jesus aceita tomar parte do banquete na casa do fariseu e não se perturba com o tratamento que recebe da mulher, acolhe sua intenção, elogia sua coragem e lhe oferece a oportunidade de uma nova vida. Condena a atitude de Simão e, com ele, a cegueira e o falso puritanismo farisaico. Vejamos como ocorreram os fatos. O banquete na casa do honrado Simão era destinado a pessoas de bem e de prestígio social. Os costumes da época previam a presença de curiosos. Quanto maior o número de convidados, maior era o prestígio do dono da casa. Mas quem rouba a cena é uma prostituta. Para o constrangimento do fariseu Simão, uma mulher de má fama entra na sala do banquete e chega até Jesus; prostrando-se a seus pés, banha-os com suas lágrimas, seca-os com os cabelos, beija-os e unge-os com perfume. A atitude da pecadora contrasta com o comportamento do fariseu. Este, que não oferecera nem água para lavar os pés dos convidados na chegada, conhecedor dos preceitos legais e cheio de si por acolher o homem importante Jesus de Nazaré e não se considerando pecador, é incapaz de entender e experimentar o perdão e o amor. A mulher, em contrapartida, enfrenta o desprezo, humilha-se na certeza de alcançar o perdão e retribui com o que tem de mais precioso. Seu gesto transborda a gratidão pela misericórdia de Deus revelada por Jesus. Para ele, a força do amor é bem maior que o peso do pecado. O perdão e o amor abrem novos caminhos para a mulher viver uma nova vida. Além do mais, Jesus aproveita a situação para mostrar quem é merecedor da misericórdia de Deus: "Aquele que se reconhece pequeno e fraco diante de Deus, mas que se deixa envolver por sua bondade". No mundo dos humanos, ninguém está livre de cometer grandes enganos, mas sempre é possível reencontrar o caminho do perdão e da salvação. A Boa-Nova de Jesus revela que se reconhecer pecador, sujeito a erros no relacionamento com Deus e com os irmãos, é o primeiro requisito para alcançar a salvação. Da consciência de pecador, brota a necessidade de confiar na misericórdia divina, sentindo-se amados, acolhidos e perdoados pelo Pai. Quem faz essa experiência sente-se impelido à gratidão, muitas vezes por meio de gestos desconcertantes como o da mulher pecadora e intrusa no banquete de Simão. No entanto, não é fácil aceitar o caminho da conversão. Este é longo e exigente. A tentação é julgar-se perfeito e suspeitar dos pecados dos outros sem medir as conseqüências. O que conta mesmo é o amor sincero e gratuito. A vida cristã consiste em retribuir o amor de Deus, que se manifesta na acolhida e no perdão em Jesus Cristo, com o amor que se revela na paz, na alegria e no serviço aos semelhantes.

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