sexta-feira, 10 de agosto de 2007

19° Domingo do TC "Vós também, ficai preparados!"

Dia dos pais! Semana da família! Mês vocacional! E ao nosso redor... situações que nos desafiam a pensar sobre o momento presente como chance única para viver „nossa fé como modo de já possuir o que esperamos“ e como ocasião de ver onde está nosso coração. Sim, notícias repetidas do acidente aéreo em São Paulo e de situações de violência nos levam a nos perguntar como estamos vivendo o convite da liturgia deste domingo: „Vós também, ficai preparados“.
Neste domingo, Jesus nos dirige uma palavra de esperança, de desafio e de ameaça.
Ele começa dizendo a seus discípulos: „Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino“. Que palavra de esperança! Em um contexto em que o medo parece nos dominar, em que pais se sente inseguros na educação dos filhos, em que famílias parecem ruir... esta palavra nos enche de esperança. O Reino que o Pai quer nos dar é de vida, mais forte que a morte que nos rodeia; é de justiça, mais firme que a injustiça que parece prevalecer; de paz, mais serena que a guerra que ceifa em nossos dias tantas vidas.... O Reino que o Pai quer nos dar pede uma urgência em nossas opções... a urgência de discernir e assumir o essencial: „Vendei vossos bens e daí esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça roi“.
A palavra de esperança que brota dos lábios de Jesus é dita de maneira particular àqueles que hoje são festejados: os pais. Pais que se desgastam de trabalhar para dar aos seus filhos tudo do bom e do melhor e que no final passam pela vergonha de ver os próprios filhos agressivos, exigentes e violentos; pais que estão perplexos com uma geração sem perspectivas mas carregada de desejos e de resistências a atitudes de comunhão e solidariedade; pais que são pais antes da hora e que aprendem sua vocação/missão já com filhos que esperam sua pensão, sua presença, sua atenção...
É uma palavra de esperança que vem acompanhada de um desafio: „Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento para lhe abrirem, imediatamente a porta logo que ele chegar e bater“. Jesus nos desafia a viver neste tempo como quem cuida, como quem ama, como quem serve. O desafio de cuidar da vida, como algo que nos é dado mas não nos pertence é urgente e vem carregado de apelos concretos. Jesus menciona em que consiste o cuidado: ficar acordados, cuidar daqueles que estão sob a nossa responsabilidade, não agredir, agir conforme a vontade daquele que nos chamou...
Desafiados a cuidar e proteger da vida, percebemos o quanto estamos ainda longe de realizar esta tarefa, basta pensarmos na quantidade de filhos e filhas que já não têm uma referência significativa em sua história... crianças sem pai, sem mãe... jovens sem heróis... casas vazias, ruas cheias, mercado saturado de ofertas... a natureza destruida, o descartável como palavra de ordem.... Desafiados a administrar o dom que nos foi entregue ao nascermos numa sociedade de alto avanço tecnológico, acordamos para nossa pobreza: as traças estão roendo, os ladrões estão roubando, as catástrofes naturais estão destruindo... e nós, impotentes nos perguntamos: porque?
A esperança e o desafio que Jesus nos apresenta neste domingo é um apelo à conversão que pode e deve ser respondido a partir de nossas casas em atitudes novas que se alargam envolvendo vizinhos, cidade, estado, país... é a esperança do Reino entre nós se manifestando na coragem e na condição de cuidarmos uns dos outros, que o próprio Deus colocou em nós...
É aqui que se situa a terceira palavra de Jesus: ameaça. Jesus não quer nos aterrorizar, mas nos mostrar quais as conseqüências de nossa omissão, indiferença e porque não dizer, conivência com os abusos contra a vida: „O Senhor daquele empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista... e o fará participar do destino dos infiéis“. Jesus não esconde as conseqüências de nossas atitudes desumanas: desumanidade gera desumanidade... Se nós deixarmos nossos filhos entregues a si mesmos e ao mercado desumanizante, o que podemos esperar? Que desumanos, eles herdem de nós não o dom de cuidar da vida, mas o limite de usurpar da vida; não o dom de serem solidários com os menores, mas o pecado do individualismo que isola e elimina os fracos; não a força que vem da atenção aos que mais precisam, mas a fraqueza da embriaguez das ofertas que seduzem no momento presente...
Jesus pergunta: „Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar comida a todos na hora certa?“ Uma pergunta que nos desafia à conversão, uma pergunta que pode nos ajudar a ler o momento atual, uma pergunta que chama pais e mães de família a reassumir com coragem e ousadia a dificil e gratificante tarefa de gerar, cuidar e fazer crescer a vida na vida dos próprios filhos...
Nesta semana da família que hoje se inicia, queremos pedir a Jesus Palavra e Pão da vida que nos ajude a viver na fé a esperança e o desafio que ele nos coloca no Evangelho, e que nos permita acolher, não como ameaça, mas como incentivo sua palavra firme e exigente: „A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido“.
Assim seja.


Ir. Luzia Ribeiro Furtado

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