sexta-feira, 22 de junho de 2007

Natividade de São João Batista

A esterilidade se tornará fecundidade e o mutismo, exuberância profética.
A festa Junina é uma celebração
brasileira de origem européia, historicamente relacionada com a festa pagã do solstício de verão que era celebrada no dia 24 de junho segundo o calendário juliano (pré-gregoriano) e cristianizada na Idade Média como "festa de São João". Ela festeja no Brasil três importantes santos católicos: São João (24 de junho), São Pedro (29 de junho) e Santo Antônio (13 de junho). Recebeu o nome de junina (chamada inicialmente de joanina, de São João) porque veio de países europeus cristianizados. A festa foi trazida para o Brasil pelos jesuítas portugueses e logo foi incorporada aos costumes dos povos indígenas e negros.
João é filho de Zacarias que, por causa de sua pouca fé, tornou-se mudo, e de Isabel, aquela que era estéril. O nascimento de João Batista anuncia a chegada dos tempos messiânicos, nos quais a esterilidade se tornará fecundidade e o mutismo, exuberância profética.
Assim, João se torna para nós hoje uma figura que inspira esperança, liberdade e bênção. Há muito que podemos aprender de João Batista. Marcelo Barros, em artigo recente, aponta para três pistas:
1. Libertar a Terra do destino de mercadoria
Há muita gente por aí que ao ver João Batista e ouvir os seus ensinamentos julgariam sem lógica. Atrasado. Contra o progresso. Por que eles têm outra lógica, uma lógica que nós julgamos perversa. A lógica deles é o mercado. O mercado sempre existiu no mundo e, em si, é uma coisa boa de relação humana e intercâmbio.... Eu adoro ver estas feiras de troca-troca que tem em alguns lugares do Brasil. Não se usa dinheiro. Troca-se um casaco de frio por uma flauta indígena, um livro por um CD e assim por diante... O mercado nacional e internacional é uma instituição de intercâmbio e sociabilidade humana, como a escola, uma Igreja e mesmo um governo. Em sociedades antigas, o mercado era subordinado às instituições sociais. A família, a Igreja, o governo.... Ninguém vendia uma coisa a um irmão ou a um parente para ter lucro... A Igreja fazia dias de feriado que todo mundo obedecia e fechava o mercado naqueles dias. Os governos garantiam preços justos para os pobres. O mercado era controlado. A sociedade capitalista emancipou o mercado e, ao contrário, colocou a sociedade sob o domínio do mercado. Aí o mercado impõe suas leis, por exemplo, o individualismo. Cada um por si e Deus por ninguém. O que importa é o interesse individual. Isso é da lógica do mercado capitalista. Daí, a crítica profética de João Batista: “Convertei-vos e crê na Boa Nova.”
2. Re-encantar a Terra com nossa vida.
Quanto à economia, o que parece desvantagem nos termos atuais, pode ser visto como vantagem no momento da crise ecológica. O transporte de mercadorias tem um custo ecológico que só se justifica para bens de primeira necessidade que não possam mesmo ser produzidos localmente. Não vai dar mais para transportar camisas de malha ou guarda chuvas da China para o Brasil. Num sistema de "economia solidária" não se pode pensar em economizar no valor do dinheiro se isso implicar uma deseconomia ecológica. A coisa tem que ir por aí: unidades de produção locais, articuladas em rede, com baixo padrão de consumo material. À primeira vista, falar em baixar o padrão de consumo pode assustar, mas só os ricos terão este problema. E os pobres que não têm, mas sonham em ter automóvel e todos os equipamentos de luxo que se importam ou são feitos com prejuízo da natureza.
Isso significará uma vida sem graça? De jeito nenhum! Nem foi para João Batista. Temos que pensar aqui no fantástico desenvolvimento das forças produtivas que não são somente materiais e a partir de um modo de produção cooperativo e solidário.
3 - O envio que vocês recebem hoje
Anunciar Jesus, para João Batista ou para nós, é missão muito séria e delicada. Não é para ir fazendo de qualquer jeito, no entusiasmo do momento. Quem evangeliza (e todos nós somos chamados a evangelizar), tem que se preparar com estudo, com a sensibilidade pela voz do povo e com a oração para cuidarmos bem os valores mais importantes da vida.
Um amigo passou na Bolívia e perguntou a uma velha índia que vendia artesanatos na rua.
- Como vai Evo Morales? Ela respondeu:- Vai bem. Mas, se não for, nós o tiramos....
Esta força indígena é nova. E abre novas questões para a História. Na véspera de assumir a presidência da República, Evo Morales recebeu uma consagração indígena em Tihuanaco. E ali ele falou o seguinte aos índios: "Se nós sobrevivemos a cinco séculos de decreto de extermínio, é porque somos portadores de valores necessários para toda a humanidade".
Um primeiro envio deste congresso pode ser o de acertarmos um diálogo mais profundo e permanente com organizações indígenas para organizar melhor a luta comum pela Terra e pela soberania nacional e comunitária, mas para um projeto além disso: para escutarmos os índios e aprendermos com sua sabedoria e seus valores. É dessa sabedoria e desses valores que nascem continuamente a fecundidade sustentável para todo o planeta. É a mesma fonte que sustentou João Batista. Ela é uma bênção da Mãe Terra, da Pachamama, para um imenso desafio que nós temos pela frente neste Brasil do agronegócio e do etanol. E quando a gente fala de missão, tem de ter claro qual a missão, por que (as motivações) e como podemos cumpri-la.
Que João Batista seja o nosso grande aliado e companheiro! Que esta festa de São João nos alegre e nos encante nesta caminhada! Que assim seja. Amém.

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