sexta-feira, 3 de agosto de 2007

18° Domingo do Tempo Comum

A riqueza não salva

Muitas pessoas colocam sua preocupação principal nas riquezas. As leituras de hoje alertam que a importância da vida humana está em outros valores. De que adianta ser uma das pessoas mais ricas do mundo, se ninguém leva nada para o túmulo? Qual é o lucro de um político que acumula bens a custa de roubo e corrupção? Que vantagem tem um banqueiro que lucra com a exploração de semelhantes?
No Brasil, como em outros lugares do mundo, quando chega a época das colheitas, faltam carros para fazer o transporte e silos para armazenar os produtos. Em muitos lugares queima-se a produção, porque a venda não compensa. Isso significa que há sobra de alimentos. Mas, ao lado dessa fartura, os seres humanos continuam passando fome.
Já na primeira leitura, o Eclesiastes afirma que trabalhar e deixar tudo para os outros é vaidade. Mais do que vaidade, é ilusão, pois a palavra original significa sopro, vento, hálito. Os bens materiais que a pessoa acumula são como bolha de sabão que se desmancha no ar. Tudo é tão passageiro como a própria existência. Todo o livro do Eclesiastes, na verdade, é um questionamento sobre o sentido da vida humana. Por que tanto esforço para acumular bens? A existência humana é, de fato, um dia infimamente breve, no meio de duas grandes noites, misteriosas e desconhecidas. O que existia antes de nós? E o que virá depois de nós? A resposta é sombria como o mistério de uma noite escura. Em última análise, ninguém sabe.
O Evangelho tem um recado claro. É inútil ajuntar tesouros para si mesmo e não ser rico para Deus. Começa por uma briga de irmãos, sobre a partilha da herança. Brigas de herança são, por sinal, muito comuns em todos os lugares. Jesus se nega a resolver o problema da herança dos dois irmãos. Mas aproveita para dizer que a vida não é assegurada pelos bens. Quantos conflitos seriam evitados se, em casos semelhantes, as pessoas tomassem consciência que o valor da vida humana é outro. O que faz a diferença, para a pessoa, não é a casa, nem o terreno, nem o carro, nem a conta bancária. Nada disso.
Então Jesus conta uma parábola. E poderia concluir que qualquer semelhança não é mera coincidência. Um homem já muito rico, ao produzir uma grande colheita, preocupa-se com a grande sobra, e planeja lucrar ainda mais, para poder descansar, comer, beber e regalar-se. Ora, quantas outras possibilidades ele teria para aplicar os seus ganhos. A época de Jesus, por certo, não era diferente da nossa, e os próprios operários daquele ricaço continuavam na carência. Famintos e miseráveis multiplicavam-se à volta do senhor. Em quem ele pensa? Só em si mesmo, infelizmente.
Então vem a surpresa. Na verdade, é a única certeza que o ser humano carrega consigo. Nessa mesma noite, que pode ser uma noite qualquer, Deus chama você de volta. E os bens que você acumulou, para quem ficarão?
Com sua parábola, enfim, Jesus dá um golpe fatal nos sistemas que só visam o lucro e o acúmulo de bens. Isso vale particularmente para o capitalismo selvagem da atualidade. A inversão de valores é tão perversa que se baseia em propaganda, para mostrar que a pessoa vale pela roupa que veste, pelo perfume que usa, ou pelo objeto que possui. Quanta loucura, diria Jesus! Mas a perversão é ainda pior quando, em nome da religião, se invertem os valores dentro do Cristianismo. Voltou uma moda de dizer que só rico é abençoado por Deus. E a isso chamam de teologia da prosperidade, se é que isso pode ser chamado de teologia. Também a essa justificativa cristã da competição capitalista, o Evangelho de hoje aplica um golpe mortal.
A vida do ser humano não é assegurada pelos seus bens. Ajuntar tesouros para si mesmo é loucura. O importante é ser rico para Deus. A segunda leitura, aos Colossenses, tem uma bela maneira de afirmar isso. É preciso ser uma pessoa renovada, segundo a imagem do Criador.
Está aí a proposta cristã. Acabar com o homem velho, isto é, superar práticas como fornicação, impureza, paixão, desejos maus, cupidez. Tudo isso é idolatria. É desviar-se da proposta do criador, que quer fazer de nós novas criaturas. Essa novidade é alcançada quando Cristo se tornar tudo em todos.



PRECES

1. Pelo Papa e pelos bispos, pelos sacerdotes e diáconos, pelos ministros e catequistas, para que em sua função ministerial, sejam firmes na fé e no exemplo, rezemos.

2. Pelas comunidades cristãs, para que sejam modelo de partilha e ajuda às pessoas mais necessitadas, rezemos.

3. Pelas pessoas que possuem riquezas, para que saibam administrar seus bens a serviço das populações empobrecidas, rezemos.

4. Por nossa comunidade, para que cresça em nós o desapego e a preocupação em ser ricos para Deus, rezemos.

5. Pelas pessoas de nossa comunidade, para que cada qual desenvolva seus carismas a serviço da demais pessoas, rezemos.


Valmor da Silva

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