sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Os tesouros terrenos e o tesouro perene

O Evangelho de hoje se inicia com o clamor de um anônimo no meio da multidão: "Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo". O fato de Lucas não identificar a pessoa que grita é um sinal de que esse problema era muito comum entre as pessoas, por isso muitos clamavam por justiça. Jesus rejeita a postura de árbitro na questão: "Homem, quem me encarregou de julgar ou dividir os bens entre vocês?". Isso não significa que ele não se importe com o clamor pela justiça diante das injustiças que assolam a sociedade. Jesus não se omite ante o problema apresentado. Antes, chama a atenção para as reais causas das injustiças: "Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, sua vida não depende de seus bens". De acordo com o Mestre, a solução não advém do simples tirar de um para dar ao outro, mas do entendimento e da partilha entre ambos. Se os interessados não chegarem ao bom senso, uma solução jurídica será fatidicamente insolúvel, pois, mesmo que a herança seja repartida, a paz não vai reinar entre eles. A parábola do rico estulto vem elucidar a lição sobre a ganância a respeito dos bens materiais que, não poucas vezes, dividem as famílias, dilaceram pessoas e levam prematuramente à sepultura. Acumular é loucura. Não garante a vida de ninguém. O erro do homem rico não está no fato de ele ampliar a área plantada em vista de uma maior colheita nem na construção de novos celeiros, maiores que os antigos, para armazenar o trigo e todos os seus bens. O equívoco está em pensar só em si mesmo, não agradecer a Deus e não valorizar os trabalhadores do campo e os construtores dos celeiros. "Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!". Ele é tido como "louco", porque colocou a garantia de sua vida em bases falsas. Alicerçou seu bem-estar e sua felicidade sobre as colunas da ganância e do acúmulo. Ampliou a área de produção e colheu em abundância, derrubou e reconstruiu, quer alegrar-se e descansar, comendo e bebendo, à custa do trabalho e do suor, da fome, da sede e do cansaço dos outros. Além do mais, o homem rico pensa em ser "senhor absoluto do seu destino". Ele imagina que o acúmulo de bens perpetue sua vida. Deitado no berço esplendido dos bens, dispensa Deus. Jesus nos garante que a vida e a felicidade são dons de Deus e todos têm direito de usufruir os bens que constituem a dignidade e o bem-estar comum. O bem-estar de alguns, conseguido à custa da injustiça, do suor e da exploração de outrem, não é dom de Deus, nem pode ser chamado de vida. O verdadeiro caminho que edifica a vida e garante a felicidade é a convivência fraterna e solidária.

Nenhum comentário: