sexta-feira, 17 de agosto de 2007

ASSUNÇÃO

Na primeira série de uma escola primária, começou a chorar um menino depois que a aula começou. O professor perguntou a ele: “Diga-me, porque você chora?” Mas o menino não queria responder logo. Só depois que o professor falou com ele um tempinho com muita paciência: “Você sente dor?” Aí o menino criou coragem e falou assim: “Eu esqueci como parece minha mãe.” Aí os outros colegas de classe riram do menino. Mas o professor logo entendeu o menino e lhe disse: “Você esqueceu o rosto de sua mãe? Isso é muito grave realmente. Você tem que ir para casa logo e ver a sua mãe. “ O menino voltou contente e continuou o seu desenho.Algo parecido deve ter acontecido com o vidente da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe. Como índio o Juan Diego pertencia a um povo que era militarmente vencido e cultural e religiosamente humilhado. Os missionários pregavam um Deus como Pai no céu; para os nativos, porém, faltou o lado materno de Deus. A colina Tepeyac perto da capital mexicana era para os indígenas o lugar onde veneraram Tonantzin, o lado materno de Deus. Mas agora este rosto materno de Deus ficou esquecido.É justamente nesta colina onde aparece em dezembro de 1531 a mãe de Deus ao índio Juan Diego. Sua roupa e suas feições pareciam de uma menina indígena. Dirigiu-se em língua indígena a ele. Ela mandou ele se apresentar no seu bispo e pedir que fosse construído um santuário neste lugar. Tudo o que conta o pobre índio para o bispo não convence ele. Por isso, ele pede um prova e vai recebê-la. Após a cura do tio do índio, Nossa Senhora, a “rainha dos céus”, pede o índio ir ao topo da colina. Lá, ele vai encontrar uma abundância colorida de flores. O índio Juan Diego sobe a colina, mesmo sabendo que nesta época não crescem flores nestas pedras. Ele cata várias flores e as coloca no seu manto. Descido da colina, ele as entrega à “rainha dos céus” e ela, por sua vez, coloca as flores de volta no manto do índio e o envia, pela terceira vez, ao bispo. Após ter superado algumas barreiras, ele chega até o bispo mostrando as flores para ele. Mas ao mostrar as flores no manto, as flores se transformam na imagem de Nossa Senhora que até hoje é venerado no santuário de Guadalupe. Só podemos imaginar o grande valor que estas aparições de Maria tenham para os índios privados e humilhados de sua cultura. Maria deve se tornar para eles uma estrela pela qual eles conseguem orientar a sua vida. Em Maria, eles devem ter redescoberto o rosto materno de Deus que os conquistadores destruíram. E o que significam para nós os acontecimentos de Guadalupe?Nós benzemos hoje nesta celebração flores e ervas medicinais. Flores são símbolo de beleza e alegria. A Igreja, nós todos devemos aceitar o questionamento, porque chegamos a tal ponto que a grande maioria da humanidade não associa beleza e alegria com nossa fé e nossa igreja católica. Como chegamos a falar sobre a fé logo em termos morais de deveres, obrigações e pecados? Quem ainda fala sobre as flores da fé? Quem fala com alegria sobre a felicidade que encontrou na fé, sobre a esperança com a qual a nossa fé nos preenche? Em Guadalupe, brilha nas flores da colina a beleza da fé, uma verdade que é vivenciada com cada fibra do corpo e com toda capacidade da alma. A cura do tio do índio Juan Diego por Maria prova que a mensagem de Jesus Cristo integra a salvação do ser humano por inteiro, corpo, espírito e alma. As ervas medicinais nos lembram nesta festa da Assunção de Nossa Senhora que nós cristãos não devemos só anunciar uma salvação eterna no céu. A nossa fé não é um consolo barato para os pobres deste mundo, mas é uma fé que quer resgatar a dignidade, a saúde, a paz, a alegria e a felicidade de todos, principalmente dos mais necessitados. O olhar para o céu, mesmo assim, é importante. Maria, assunta ao céu, não pertence mais a um povo ou a uma cultura específicos. Por isso, ela pode aparecer em Guadalupe como mulher indígena enquanto na África ou mesmo no Brasil como mulher negra. A beleza da mensagem cristã só se dá com todo seu volume se a nossa fé cria raízes em cada cultura e não só na cultura tradicional européia ocidental. Na leitura ouvimos de uma senhora que aparece no céu. A igreja refere essa imagem a Maria e a si mesmo. Vamos, por isso, tentar de viver os valores cristãos de maneira que as pessoas reconhecem também o rosto materno de Deus na igreja e cada vez menos um aparato de poder e castigo dos velhos tempos. Aí também estas pessoas serão capazes de entoar o cântico de Maria que ouvimos no evangelho. Que assim seja. Amém.
Wolfgang Müller

Nenhum comentário: