sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Homilia para o 27º Domingo Comum

Qual é a relevância da nossa fé para a nossa vida?
Hoje o Senhor nos reúne a fim de fortalecer nossa fé frágil e, como o grão de mostarda, torna-nos capazes de superar os limites e de realizar importantes tarefas a serviço da vida e da esperança. A presença do Espírito Santo multiplica nossas forças e renova a gratuidade da nossa fé, tema central das leituras deste domingo. Celebremos a memória da Páscoa de Jesus Cristo, que se estende e amadurece nas pessoas que doam sua vida na obra missionária da Igreja. Ou como diz o documento de Aparecida (31): "A Igreja deve cumprir sua missão seguindo os passos de Jesus e adotando suas atitudes (cf. Mt 9, 35-36). Ele, sendo o Senhor, se fez servidor e obediente até a morte da cruz (cf. Fl 2, 8); sendo rico, escolheu ser pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9), ensinando-nos o caminho de nossa vocação de discípulos e missionários. No Evangelho aprendemos a sublime lição de ser pobres seguindo a Jesus pobre (cf. Lc 6, 20; 9, 58), e a de anunciar o Evangelho da paz sem bolsa ou alforje, sem colocar nossa confiança no dinhero nem no poder deste mundo (cf. Lc 10, 4 ss). Na generosidade dos missionários se manifesta a generosidade de Deus, na gratuidade dos apóstolos aparece a gratuidade do Evangelho."
Na 1ª leitura o profeta Habacuc reclama com Deus por aquilo que anda mal na sociedade: violência, iniqüidade, opressão... A justiça anda longe da vida do povo. Há apenas alguém que grita por ela... Na 2ª leitura São Paulo pede a Timóteo para reavivar o dom de Deus que recebera pela imposição das mãos. Confiando no poder de Deus, Timóteo deve continuar a dar testemunho do Evangelho, com fé e amor. A fé gera a confiança em Deus. Esta por sua vez, gera a fidelidade e a perseverança. Jesus está conversando com os seus discípulos e dando-lhes instruções. Depois de ter falado de tropeços e de perdão, reflete sobre a fé. Jesus corrige e abre a perspectiva dos discípulos. Eles parecem querer mais fé; fé em maior quantidade. Jesus responde: procurem uma fé mais verdadeira, de melhor qualidade! A fé deve ser entrega total a Deus (aqui representado pelo patrão), procura a realização da sua vontade (e não procura aquilo que de bom ela pode obter para nós). A entrega não só deve ser total, mas também gratuita. Não se deve esperar recompensa. A rigor, não passamos de "servos", escravos. Mas Ele nos quis filhos, nos adotou, nos deu gratuitamente a participação na vida divina, na família de Deus. Tudo o que temos nos foi doado. Por isso a vida cristã, a vida de quem segue Jesus, é fundamentalmente um serviço aos irmãos. Se Deus nos deu tudo gratuitamente, também a nossa atitude deve ser de doação gratuita, de serviço generoso. Se o próprio Cristo "veio não para ser servido, mas para servir", também o discípulo - o seguidor de Jesus - assumirá o serviço como a sua missão, a sua honra, a sua grandeza. O servidor não alega direitos, mas celebra a alegria do servir. É muito grande a diferença entre uma prestação gratuita e alegre de serviço e uma tarefa que vai ser executada apenas por obrigação. Não entendamos mal, porém, a última expressão de Jesus: "somos servos inúteis". Ela foi bem traduzida agora: "não somos mais do que servos" e talvez outros nos possam substituir. A condição de servo, porém, não somente é útil ao Reino de Deus, mas principalmente nos torna em tudo semelhantes a Jesus, o servo de Deus por excelência.
Apesar dos aspectos positivos que nos alegram na esperança, o documento missionário de Aparecida nos trouxe também uma constatação de sombra (100a) que faz pensar: "Para a Igreja Católica, a América Latina e o Caribe são de grande importância, por seu dinamismo eclesial, por sua criatividade e porque 43% de todos seus fiéis vivem nesses locais; no entanto, observamos que o crescimento percentual da Igreja não segue o mesmo ritmo que o crescimento populacional. Na medida, o aumento do clero, e sobretudo das religiosas, distancia-se cada vez mais do crescimento populacional em nossa região. Enquanto no período 1974 a 2004 a população latino-americana cresceu quase 80%, os sacerdotes cresceram 44,1% e as religiosas só 8%. (cf. Annuarium Statisticum Ecclesiae)
Quer dizer, hoje, um padre tem atender quase o dobro das pessoas que há 30 anos atrás.
Em vez de acusar as pessoas que nos deixaram, devemos-nos perguntar como está a nossa própria fé. Que qualidade ela tem ou não tem que ninguém nos pergunta por ela? Qual é a revelância da nossa fé para a nossa vida? A nossa fé passa das fórmulas de confissões e orações aprendidas de cor? A nossa fé é realmente uma coisa que toca meu coração? E a segunda pergunta também é importante nessa avalição: "Qual é a irradiação da nossa fé? A nossa fé contagia, é passada na evangelização corpo a corpo? Ou nós sentimos vergonha de falar da nossa fé? (constatação de um bispo uruguaiano sobre o seu povo).
Mas, apesar da constatação redutiva de Aparecida, o evangelho de hoje me dá coragem: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria." O grão de mostarda é o menor de todos os grãos e já tão pouco é suficiente para movimentar algo. Então coragem! Jesus quer nos encorajar com esta imagem de fé e de esperança. Mesmo se nós, às vezes, temos que atestar muito pobre a nossa fé, um pouquinho de fé já seria suficiente para mover algo. Primeiro dentro da nosso própria vida. Furando a dura casca, a nossa fé poderia crescer e se tornar uma planta majestosa. Poderia florescer e animar e encorajar outros grãos de furar a sua dura casca e dar uma chance a sua fé pequena. Cada um/a dá o que tem de fé dentro de si. Junto, com certeza, vai ser suficiente. Podemos ter confiança em nossa fé. O evangelho nos convida.


Wolfgang Müller
homilia@terra.com.br

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