sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

3° Domingo do Advento - Pe Carlo

A palavra que hoje Deus nos endereça nos vem do coração do mesmo Batista que, na liturgia do domingo passado nos recordava a beleza e a dinamicidade da conversão. Um homem, o Batista, envolvido plenamente pelo fascínio e a força do apelo de Deus a participar de seu projeto para com o homem. Agora, aquele homem que havia pregado que liberdade da pessoa nasce do reconhecimento da verdade, por servir a esta mesma verdade estava preso nos calabouços da fortaleza e Herodes. Daí, daquele lugar de trevas ninguém podia ter muitas esperanças nem perspectivas; aquela escuridão somente era interrompida para escutar a última palavra da vida. Contudo o eco do que estava acontecendo fora chegou até ele. Como sempre, Deus chega também onde nunca os homens pensariam possa chegar. Onde menos se espera, também aí Deus se faz presente. Para o Batista se abria uma questão de extrema importância, maior do que a prisão, maior do que o sofrimento: se Jesus fosse de fato “Aquele que devia vir”, o esperado, tudo o resto seria secundário. As trevas daquela cela seriam irradiadas por uma luz nova, a luz da esperança que encontra cumprimento. O Messias daria significado à sua vida, à sua pregação, ao seu amor para a verdade. Até a recusa violenta da verdade por parte dos poderosos teria sentido...Se morrer sem sentido é terrível, ainda pior é descobrir no final que a vida não teve sentido, que tudo quanto foi feito, dito, firmemente afirmado, não significa mais nada. È o drama que é re-proposto sempre a cada homem de uma maneira única. Um drama ao qual ele deve dar resposta antes que não haja mais tempo. Viver sem sentido é pior que morrer inutilmente. João precisava saber se a sua vida teve sentido, se suas palavras e atos fossem ou não somente um “caniço agitado pelo vento” das circunstâncias, das frustrações, das ilusões erguidas em nível de verdade ou momentos que preparavam o evento desde sempre esperado.Todos sabemos, mesmo que o afastemos de nossa consideração o quanto mais possível, que antes ou depois haverá um momento em que, sozinhos, teremos que ver quem somos, o que fizemos e o que vamos deixar como valor para alguém. Aquele, pode ser o momento de maior paz ou irreversível amargura. Saber quem era Jesus faria a diferença para o Batista. Saber quem é Jesus ainda faz a diferença e, como para o Batista, também para cada um Ele dirá quem é. Dirá a verdade como ela é. É isto que nos sugere a frase de Jesus: « Ide relatar a João o que vedes e ouvis», nem opiniões nem conjeturas, a verdade é objetiva e é oferta a todos na sua essência.Mais uma vez o Evangelho nos oferece, nas palavras de Jesus, o grande tema da conversão, da disposição fundamental ao mundo que está além do nosso restrito mundo. De fato, quem adquiriu a disposição fundamental que se manifesta na abertura e no acolhimento, ao descobrir “quem” de fato é Jesus não ficará “escandalizado” ou seja, abalado, sacudido por uma realidade bem diferente daquela imaginada. Nos “escandalizamos” tanto mais quanto mais o que vemos é diferente daquilo que cultivamos dentro de nós como valor ou princípio de vida. Quem cultivou em sua vida a “disposição”, a “conversão” como valor será «bem-aventurado», feliz por ver que o sentido que deu à sua vida corresponde exatamente ao que é verdadeiro. Sim, porque também diante da maneira nova com a qual Deus –como sempre faz- se apresentará, também naquele momento, alguém capaz de se converter, de se abrir... abrir-se-á mais uma vez. Este homem é bem-aventurado, porque encontrará uma continuidade entre todas as sua escolhas, as decisões que na vida lhe custaram tanto ao ser tomadas, e o desfecho de sua vida. A história do Batista no cubículo escuro, nos sugere uma dinâmica muito semelhante ao que o Advento nos propõe: Jesus pode dar significado àquilo que sem Ele não tem significado. Reconhecer Jesus pode sem dúvida fazer a diferença entre a raiva e a paz, entre a conflitualidade latente em nosso agir e a harmonia serena que sabe também viver a injustiça, o sofrimento, a opressão causada pelos poderosos que cultuam a si mesmos...Contudo, a conversão não se improvisa, se constrói com paciência e na receptividade, isto é, na capacidade de agradecer como por um dom as ocasiões que Deus sempre nos propõe para aprendermos a sair fora de nós mesmos. E isto acontece com os imprevistos, com as dificuldades, com as incompreensões etc. Sempre Deus tem como ajudar-nos a aprender a arte da conversão permanente. Aquele que se colocar nesta atitude verá realizado em si aquilo que, com tanta firmeza, diz Jesus: «Eis que estou em pé à tua porta e bato! Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo». (Ap3,20). Deus vem, Jesus vem, não deixa sem resposta quem quer saber o significado de sua vida, mesmo entre os vexames e tribulações provocadas pelos poderosos que cultuam a si mesmos.Deus vem, Jesus vem, não deixa sem resposta quem pede ajuda aos outros e confia em seu testemunho, como fez o Batista, libertando-se da tentação de chorar sobre si mesmo. Deus vem, Jesus vem, não deixa sem resposta quem tem o coração sempre projetado além daquilo que experimenta, confiante de que a promessa que Deus faz será mantida. Que estes dias de Advento reavivem em nós a certeza da fidelidade de Deus que vem ao encontro das nossas mais profundas expectativas, que vem encontrar-nos também nos lugares mais recônditos e na solidão mais profunda.

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