sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

3º DOMINGO DO ADVENTO - Ir. Luzia Ribeiro Furtado

A profecia da coerência
“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”
Estamos quase às vésperas do Natal, e a liturgia deste domingo nos coloca diante da pergunta de João Batista: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?”
Diante da pergunta dos discípulos de João, que hoje é também nossa, propomos como ponto de partida de nossa reflexão, o testemunho de Dom Luiz Flávio Cappio, Bispo de Barra, na Bahia, que no dia 27 de novembro iniciou um jejum em solidariedade aos ribeirinhos das margens do Rio São Francisco e, com sua atitude humilde e coerente, nos questiona, nos provoca e chama-nos à reflexão:
“Nossa vida a Deus pertence e não temos o direito de tirá-la. Exatamente porque a minha não me pertence e sim a Deus, pois a ele já a entreguei há muito tempo, é que a ofereço pela vida de muitos. Não a estou tirando, apenas jejuo e rezo, como é da tradição bíblica e cristã, por tempo indeterminado, disposto a ir até o fim. Primeiro, direcionado a Deus, Senhor da Vida e da História, como sacrifício, para que Ele se compadeça de nós e mude o coração de homens cegados pelo poder e pelo dinheiro. Segundo, direcionado aos governantes deste país, como legítima forma de ação de um cidadão, esgotadas e infrutíferas todas as tentativas anteriores de amplos setores da sociedade fazerem-se ouvir e respeitar. É um gesto pessoal, mas de significado coletivo.
Meu comportamento atual não é nada mais que coerência irreformável com toda a minha trajetória de franciscano, padre e bispo a serviço da defesa e promoção da vida. Isso quis expressar em meu lema de bispo “Para que todos tenham vida” (Jo 10,10).
Diante do testemunho de Dom Luis Cappio, queremos contemplar também o testemunho que a liturgia de hoje nos apresenta em preparação próxima ao Natal. O Evangelho deste domingo começa dizendo que João estava na prisão... por qual crime? Não está claro no evangelho deste domingo, mas nós sabemos que a prisão para João foi o preço da coerência de sua profecia. Denunciar um rei podia ser considerado crime, ainda que a denúncia fosse fundamentada na verdade...
Na prisão, ele está inquieto pois no deserto preparou o tempo messiânico e agora não pode vê-lo realizar-se. Pergunta, através de seus discípulos, ao próprio Messias, se é Ele que devia vir ou se deve esperar por outro... Por trás da pergunta de João, lemos a tensão vivida naquele tempo, tensão acompanhada de conflito, de inquietações, de perguntas...
Jesus, o Messias, acalma os discípulos de João, simplesmente convidando-os a olhar para a realidade: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”(11,5). Na resposta de Jesus temos o ponto de encontro da espera e do projeto.
Jesus retoma a promessa fundamental anunciada já em Isaías: “Fortalecei as mãos enfraquecidas... Dizei às pessoas deprimidas: CRIAI ANIMO, NÃO TENHAIS MEDO!... O Senhor vem para vos salvar!...Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O cocho saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos. Os que o Senhor salvou voltarão para casa...”
Ao assumir estas palavras no momento presente em que vive, Jesus convida a multidão que o escuta a refletir sobre a pessoa de João Batista – um profeta, aliás, mais do que um profeta... O maior dos nascidos de mulher... e ainda assim menor do que o maior no Reino dos céus...
É nesse contexto de olhar sobre a realidade, de reflexão sobre a “profecia da coerência”, que vivemos a preparação próxima do Natal... A liturgia de hoje é um convite à alegria, a firme esperança do agricultor que espera ansioso a chuva de outono que fará germinar o precioso fruto da terra, um convite a fortalecer o coração, criar ânimo e vencer o medo...
A partir desta experiência de fé, é que novamente nos voltamos para o testemunho de Dom Luiz Cappio... Um homem simples que vive a coerência da profecia com radicalidade, mas sem agredir ninguém... que nos convida a refletir sobre o grito urgente da natureza e da terra hoje e sobre os riscos de uma relação mercantilista com a água, a terra, a vida...
Retomamos suas palavras no final desta reflexão: apenas jejuo e rezo, como é da tradição bíblica e cristã, por tempo indeterminado, disposto a ir até o fim. Primeiro, direcionado a Deus, Senhor da Vida e da História, como sacrifício, para que Ele se compadeça de nós e mude o coração de homens cegados pelo poder e pelo dinheiro.
Dom Luiz, nestes dias que antecedem o Natal, queremos lhe expressar nossa solidariedade, como Igreja no Brasil... Desejamos, que de fato, para o senhor, para os pobres do Nordeste, para a população ribeirinha, este de fato seja um FELIZ NATAL, e desejamos que como João, o senhor possa sentir que o movimento que lhe envolve é muito maior do que sua pessoa tomada individualmente...
Jesus de Nazaré, o Messias, continua vivo e presente entre nós... o testemunho de quem dá a “vida pela vida” é um sinal de que os sinais messiânicos continuam ainda vivos e presentes em nossa história.
Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu digo: alegrai-vos! O senhor está perto!” (Fl 4,4s).

Nenhum comentário: