quinta-feira, 13 de março de 2008

Domingo de Ramos (Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa)

Celebramos hoje o DOMINGO DE RAMOS.

A liturgia apresenta dois momentos bem distintos:
- A ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM,
com a procissão de Ramos... num clima de alegria...
como GESTO de FÉ e de COMPROMISSO.

- O INÍCIO DA SEMANA SANTA, com a Leitura da Paixão do Senhor,
na missa, relembrando o caminho do sofrimento e da Cruz.
= Dois momentos distintos da vida de Jesus: Triunfo e Humilhação.
Jesus se apresenta em Jerusalém propondo a paz e recebe a violência...

As Leituras Bíblicas nos ajudam a viver o clima dos mistérios que celebramos:
A 1ª leitura apresenta um Profeta anônimo, chamado por Deus
a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação.
Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e
concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. (Is 50,4-7)

* Os primeiros cristãos viram neste "servo sofredor" a figura de Jesus.
Ele é a Palavra de Deus feita carte, que oferece a sua vida
para trazer a salvação aos homens.
A 2ª Leitura é um lindo Hino Cristológico. (Fl 2,6-11)
Cristo é o princípio e o fim de todas as coisas, exemplo de toda criatura.
Enquanto a desobediência de Adão trouxe fracasso e morte,
a obediência de Cristo ao Pai trouxe exaltação e vida.
Ele se despojou de sua condição divina, assumiu com humildade
a condição humana, para servir, para dar a vida,
para revelar totalmente aos homens o ser e o amor do Pai.
Esse caminho não levará ao fracasso, mas à glória, à vida plena.
E é esse mesmo caminho de vida, que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho convida a contemplar a PAIXÃO e MORTE de Jesus,
segundo São Mateus. (Mt 26,14-27,66)

A morte de Jesus deve ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida:
Anunciar um mundo novo de justiça, de paz e de amor para todos os homens.

Para concretizar este projeto,
- Jesus passou pelos caminhos da Palestina "fazendo o bem" e anunciando
um mundo novo de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos.
- Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem os pecadores.
- Ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos,
não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus.
- Ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e
aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o "Reino";
- E avisou os "ricos" (os poderosos, os instalados), de que o egoísmo,
o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.

è O projeto libertador de Jesus entrou em choque
com a atmosfera de egoísmo e de opressão que dominava o mundo.
- As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia
de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos
que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios.
- Não estavam dispostas a arriscar, a desinstalar-se e
a aceitar a conversão proposta por Jesus.
- Por isso, prenderam Jesus, julgaram-no, condenaram-no e
pregaram-no numa cruz. A morte de Jesus é a conseqüência lógica do anúncio do "Reino":
resultou das tensões e resistências, que a proposta do "Reino" provocou
entre os que dominavam o mundo.
Podemos, também, dizer que a morte de Jesus é o ponto mais alto de sua vida;
é a afirmação mais radical e mais verdadeira daquilo que Jesus pregou
com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.
Aprofundemos alguns dados que são exclusivos
da PAIXÃO SEGUNDO SÃO MATEUS:
- Mateus relaciona os fatos da Paixão como Cumprimento das Escrituras:
Mateus escreve para cristãos, provenientes do judaísmo...
por isso, quer demonstrar que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas.
- No Getsêmani, Jesus condena a violência contra o servo do sacerdote...
O caminho do Pai passa pelo amor e pelo dom da vida.
Por isso, os discípulos não podem recorrer à violência.

- Só no Evangelho segundo Mateus aparece o relato da Morte de Judas.
O episódio deixa clara a falsidade do processo e a inocência de Jesus.
Mateus sublinha o desespero e o arrependimento de Judas, e
deixa clara a inocência de Jesus.
- Só Mateus fala do sonho da mulher de Pilatos e da lavagem das mãos.
Quer deixar claro que os pagãos reconhecem a inocência de Jesus e
o próprio povo o rejeita.

- Só Mateus descreve os fatos que acompanharam a morte de Jesus:
"O véu do Templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo; a terra tremeu e
as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos dos corpos de santos que tinham morrido ressuscitaram; e, saindo do sepulcro, depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade e apareceram a muitos".
Para Mateus, são sinais que mostram que, apesar do aparente fracasso de Jesus,
Deus está ali, para se manifestar como o salvador e libertador do seu Povo.

• Finalmente, só Mateus narra o episódio da "guarda" do sepulcro.
Para os cristãos, o sepulcro vazio era a evidência de que Jesus tinha ressuscitado.






+ Concluindo: O que é CELEBRAR A PAIXÃO E A MORTE de Jesus?
- É contemplar a mais espantosa história de amor.
Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites e fragilidades,
experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações,
tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai;
e, estendido no chão, atraiçoado, abandonado, incompreendido,
continuou a amar.

+ O que significa para nós hoje CONTEMPLAR A CRUZ,
onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus?
- Significa assumir a mesma atitude e
solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo:
os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos,
os que são privados de direitos e de dignidade…

- Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo;
significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens;
significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor…

Viver deste jeito pode conduzir à morte,
mas o cristão sabe que o amor gera vida nova e
introduz na nossa carne os dinamismos da Ressurreição...

Estamos dispostos nessa Semana Santa abrir o coração
para acolher o mistério do infinito amor de Deus,
que doa sua vida por amor a nós?
Ele quer um espaço em nosso coração...

Nenhum comentário: