quarta-feira, 23 de maio de 2007

"Envias o teu sopro... e renovas a face da terra"

Aelred de Rielvaux (1110-1167), monge cisterciense inglês
Sermão sobre as sete vozes do Espírito Santo no Pentecestes,
Sermões inéditos,
"Envias o teu sopro... e renovas a face da terra" (Sl 103,30)Segundo o desígnio de Deus, no princípio, o Espírito de Deus encheu o universo, "desdobrando o seu vigor de um extremo do mundo ao outro e governando todas as coisas com doçura" (Sb 8,1). Mas, no que toca à sua obra de santificação, foi a partir do dia de Pentecostes que "o Espírito do Senhor encheu o universo" (Sb 1,7). Porque é hoje que este Espírito de doçura foi enviado pelo Pai e pelo Filho para santificar toda a criatura segundo um plano novo, uma maneira nova, uma manifestação nova do seu poder e da sua força. Outrora, "o Espírito não tinha sido dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado" (Jo 7,39)... Hoje, vindo da sua morada celeste, o Espírito é dado às almas dos mortais com toda a sua riqueza, toda a sua fecundidade. Assim, este orvalho divino estende-se sobre toda a terra, na diversidade dos seus dons espirituais. E é justo que a plenitude das suas riquezas tenha escorrido para nós desde o alto dos céus, uma vez que, poucos dias antes, por generosidade da nossa terra, os céus tinham recebido um fruto de maravilhosa doçura... A humanidade de Cristo é toda a graça da terra; o Espírito de Cristo é toda a doçura do céu. Produziu-se então uma troca salvífica: a humanidade de Cristo subiu da terra ao céu; hoje, do céu desceu a nós o Espírito de Cristo... Em todo o lugar o Espírito santo age; em todo o lugar o Espírito toma a palavra. Sem dúvida que, antes da Ascensão, o Espirito do Senhor foi dado aos discípulos quando o Senhor lhes disse: "Recebei o Espírito Santo. Todos aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos". Mas, antes do Pentecostes, não se ouviu a voz do Espírito Santo, não se viu brilhar o seu poder. E o seu conhecimento não tinha chegado aos discípulos de Cristo, que não tinham sido confirmados na coragem, uma vez que o medo os obrigava ainda a esconder-se numa sala fechada à chave. Mas, a partir desse dia, "a voz do Senhor domina as águas.... cria lâminas de fogo... e todos exclamam: Glória!" (Sl 28,3-9)

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