quarta-feira, 23 de maio de 2007

Solenidade de Pentecostes (III)

Depois de uma longa caminhada de celebrações pascais, hoje celebramos a plenitude da Páscoa, o dom do Espírito Santo enviado pelo Pai e pelo Cristo glorioso para todos. Assim, 50 dias depois da Páscoa, celebramos a constituição do novo povo de Deus (a Igreja) com a missão de dar continuidade à obra de Jesus Cristo.O contexto de Pentecostes para o Evangelista João é o mesmo da Páscoa. Ao anoitecer do primeiro dia da semana, os discípulos de Jesus estavam clandestinamente reunidos, avaliando juntos os últimos acontecimentos. Tristes, decepcionados e com a sensação de fracasso. As portas do local estavam fechadas. Paralisados pelo temor de serem submetidos às mesmas torturas que o Mestre havia passado. Subitamente, ele se colocou no meio deles e os saudou: "A paz esteja com vocês!". Imaginem o espanto! O sentenciado de quem todos estavam falando aparece vivo, dando sinais de sua identidade, mostrando as mãos e o lado. A alegria tomou conta do ambiente e espantou as trevas do medo. "A paz esteja com vocês!". Soprando sobre eles, o Ressuscitado diz: "Recebam o Espírito Santo". A paz e o dom do Espírito coincidem. Além do mais, à paz e ao Espírito, une-se o perdão dos pecados. "Os pecados daqueles que vocês perdoarem serão perdoados".O dom do Espírito associado à paz recorda o momento primordial da criação em que o Espírito pairava sobre o caos, quando, mediante a Palavra criadora do Criador, cada coisa foi chamada à integridade da vida. A experiência do pecado, porém, rompeu a harmonia do projeto inicial da criação, jogando-a no caos primitivo. Mas a Páscoa de Cristo, nova criação, reconciliou as criaturas com o Criador, selando assim a paz com o sangue derramado na cruz (cf. Cl 1,20). O perdão dos pecados e a reconstrução da paz são obras do Espírito. Quem recebeu esse dom do Senhor é convidado a comunicá-lo aos outros. Portanto, ao receberem o dom do Espírito, os discípulos também foram enviados a promover a reconciliação entre pessoas e grupos humanos. A Igreja, como comunidade de batizados, recebeu de seu divino fundador a tarefa de criar condições para que o Espírito penetre e transforme os corações oprimidos pelo pecado, isto é, pelo medo, apatia, dúvida, silêncio e ineficácia. Todavia, como aos primeiros discípulos do Mestre, hoje o medo e a apatia rondam a Igreja. Por conseqüência, diminuem a fé e a esperança em Jesus Cristo e na possibilidade do Espírito gerar uma nova sociedade com base no amor solidário, na verdade, na justiça e na paz. No dia de Pentecostes, vem à minha memória um perene texto publicado pelo Conselho Mundial das Igrejas (em 1968), ressaltando os efeitos da presença do Espírito de Deus na Igreja. Em síntese, diz: Se está presente o Espírito, sob sua ação Deus não fica longe do mundo, mas aproxima do homem o Reino de Deus; Cristo não pertence ao passado, mas é o Ressuscitado; o Evangelho não é letra morta, mas potência de vida; a Igreja não é uma organização, mas comunhão no amor trinitário; a missão não é propaganda, mas Pentecostes; a autoridade não é domínio, mas serviço libertador; o culto não é evocação do passado, mas atualização dos fatos salvadores de Deus e antecipação da consumação do futuro esperado; a moral não é ética natural de escravos submetidos ao látego da lei, mas agir como cristãos, isto é, Lei do Espírito em Jesus Cristo.Enfim, o Espírito Santo foi doado pelo Ressuscitado aos discípulos para que todos tenham a oportunidade de viver em paz uns com os outros, harmonizados e reconciliados, hoje e nos tempos futuros!

Nenhum comentário: